
Amanheceu um dia lindo em Uspallata, céu azul aberto, com sol e uma temperatura agradavel, era então o dia decisivo de saber como voltaríamos para casa. Após tomar o "desayuno" e acertar as coisas, preparamos as motos e foi então que fomos tentar fazer a moto pegar. Tentei dar a partida, mas como já era esperado, a bateria era fraca demais, 3A, sendo que a moto puxa 5 A, resultado, não pegou. Tentamos então fazer a danada pegar no tranco, e também não funcionou. Ai que comecei a entender que a questão não era somente a falta da bateria, tinha mais alguma coisa errada na moto. Já desanimado e certo de que não voltaríamos para Mendoza pilotando, fomos até a guincheiro local que funciona junto de uma oficina mecânica, e lá ainda estava fechado, sendo que o proprietário mora na casa ao lado mais também estava sem sinal de vida nenhum. Havia um cartaz na oficina dando conta que o horário de funcionamento se inicia as 8:00 hs, porém já era bem mais de 8:30 hs e nada. Foi então que resolvi não mais ficar alí esperando, peguei a moto do Duda e sai a procura de outro meio de transporte, sendo que próximo dalí existiu uma " gomeria " (borracharia) e o senhor que lá estava me indicou um senhor que vende gás em sua casa a poucos metros dalí e que possuia uma caminhonete, e que já por diversas vezes havia feito o socorro de motociclistas com problemas, seu nome era Pablo Montaña. Pois, confiante da indicação e curiosos em saber que tipo de " caminhonete" seria a do Pablo, vou até sua casa, uma casa simples, próximo a um riacho bato palmas e de lá sai um senhor sisudo e desconfiado que vem me indagando ..." que nescessitas??". Explico a ele a situação e ele me diz que é possível nos " guinchar" até Mendoza por 350 pesos (o guincheiro do sábado havia me pedido 700 pesos), peço então para ver a camionete e para minha surpresa era uma Ford F-100 novinha, mais do que na hora disse se poderia ser pra já, o que de pronto ele concordou.



Assim, deixamos Uspallata, uma vila guardado com carinho no coração e na alma, um lugar para se recordar o resto da vida por todo aprendizado vivido alí, sem contar das belas paisagens e clima. O Chile, definitivamente havia sido deixado para trás, pelo menos desta vez não seria possível chegar àquele destino, deixando uma enorme vontade de um dia poder alí voltar...
Ainda enquanto esperávamos o Pablo, passou por nós um motor home com placa da frança, com uma família inteira viajando pela américa numa Iveco, e que também estava com problemas pois estava a procura do mecânico dorminhoco...Comparado a eles, apesar da distância, estávamos do lado de casa...


Chegamos a Mendoza por volta das 11:oo hs, depois de uma viajem tranquila e com direito a curso intensivo de portunhol, Pablo um cara super gente fina, muito conversador, foi nos contando sobre política, desceu o pau na Cristina, como a maioria do povo argentino, parece que a presidente atual não caiu nas graças da população, nos contou sobre o local que ele mora desde pequeno, muito bom ter podido estar lá com ele, queria por que queria trazer as motos aqui para o Brasil, más a ideia não era esta. Fomos direto para a loja da Honda, onde o mecânico Gustavo já me pareceu ser um velho conhecido de Pablo, eles devem se ver de vez enquanto com situações parecidas a nossa. Despedidas de Pablo, deixo a minha moto lá na esperança e promessa de voltar pelas 17:00 hs para buscá-la, funcionando. Resolvemos ficar com a moto do Duda, caso precisássemos ir a algum hotel, reservar vaga, ou sei lá o que passou pela cabeça, pois não foi muito certo, um de moto e outro a pé andando junto numa capital com trânsito caótico, resultado, nos perdemos um do outro. As coisas pareciam estar tomando um rumo não escolhido por nós, mas pelo destino. Comecei andar pelas ruas principais de Mendoza, pois já tinhamos passado alí duas noites então já conhecia um pouco do entorno, e de olho nas motos vendo se encontrava o Duda, que eu não me preocupei muito porque, no final das contas se não nos encontrasse-mos, com certeza as 17: oo hs ele iria lá na oficina. Depois de uns 40 minutos caminhando perdidos, vejo a moto do Duda estacionada junto de algumas outras, de frente a uma lanchonete, não penso duas vezes, entrei comprei um lanche de salame e coca-cola, me sentei alí e fiquei esperando meu parceiro de aventura, que logo apareceu na multidão, o que foi um grande alívio. Dali fomos até a praça independência onde comemos uma porção " picada" de frios e azeitonas e aproveitamos o wi-fi para mandar notícias para casa. O dia estava chuvoso, caia uma chuva fina e nós alí que nem sem teto, desabrigados, sem hotel, sem abrigo longe de casa, sem saber se a moto funcionaria, ficamos na praça, debaixo de uma marquise com uns meninos que vendiam cd´s, pareciam bem desafortunados, assim como nós naquele momento, ficamos alí fazendo hora, escondidos da chuva, até dar a hora de voltar a oficina.

Chegado na oficina, encontro minha moto toda desmontada ainda, pergunto pro Gustavo e ele me diz " malo, malo", não tinha conseguido fazer a moto funcionar e ainda estava achando que era o módulo que tinha queimado e o pior, não teria esta peça para reposição na Argentina, teria que vir do Brasil. Ai pensei, FUDEU!!, desesperado começo a fuçar na moto junto do Gustavo e me lembro do alarme, desativei na chave e nada, desativei no código da chave e opa, quase pegou, Gustavo então montou o tanque novamente no lugar, colocou a bateria nova, dei partida e vrumm.!! funcionou, era a bosta do alarme positron que vendem nas concessionárias como sendo compatível com a XRE. Mesmo alarme que o Duda teve que desativar no primeiro dia da viajem porque começou a dar pau. Pedi então pro Gustavo desligar o alarme da bateria, e ai a moto voltou a não funcionar. Resultado, vim com a alarme conectado, porém desativado, mais vim, cheguei aqui assim. Resolvido o problema da moto já eram quase 19:oo hs, a chuva havia parado, tinhamos ainda mais umas 2 horas de dia claro, então resolvemos, para quebrar a monotomia de todos esses dias parados, resolvemos pegar estrada rumo a San Luis, afinal eram só 258 km, deveriamos chegar lá ainda no começo da noite. A ruta 7 neste ponto estava com alguns pontos em reforma, principalmente próximo dos pedágios, que moto não paga, isso fez com que nos atrasássemos um pouco e a noite caiu, junto dela um frio de fazer o corpo inteiro tremer, a nossa frente viamos relâmpagos ao longe, já estava sem bateria na câmera ara fazer fotos e a vontade de chegar logo nos fazia andar sem parar, nem mesmo o frio era motivo, a vontade era de chegar. Andamos por um bom trecho da ruta 7 neste ponto, onde a via é iluminada a noite, coisa que só viriamos se passassemos alí a noite, coisas do destino, muito lindo, uma reta só e a cidade de San Luis uns 50 km a frente tudo iluminado.
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Chegamos a San Luis, com o combustível no berro paramos no primeiro posto já na entrada da da cidade por volta das 10:30 hs, num frio de lascar, pedimos uma pizza que a moça esquentou no microondas e dois pingados, isso mesmo, pizza com pingado, era o que tinha de quente para se consumir, e o corpo pedia isto, tentamos usar o wi-fi com o tablet, que se monstrou um impecilho a comunicação, não conseguimos, então fomos a procura de hotel. Rodamos a cidade toda e em todos os hotéis que parava perguntar a resposta era a mesma, " full, completo", não havia vagas em lugar algum da cidade. San Luis parecia uma mini Las Vegas Hermana, passamos na porta de vários cassinos e a cidade estava fervilhando, muita gente pelas ruas e restaurantes, ficamos sabendo que estava tendo na cidade tipo a volta ciclistica de SP, isso equiparado lá, e naquele dia era San Luis, a cidade estava cheia de ciclistas e equipes, esse o motivo do bum populacional, e isto já era por volta das meia noite lá, aqui no Brasil 01:00 hs da manhã, comecei a ficar preocupado com a família aqui que deveria estar ansiosa por notícias, paramos em um posto YPF, mais dois pingados e ai conseguimos usar o tablet, pelo menos para avisar que estávamos vivos, o que já foi de grande valia. O tempo parecia que iria virar chuva, ventava muito e estava frio, procuramos na internet alguma opção de hospedagem mas não resolveu. Lá por volta das 02:00 hs da manhã, depois de "alugar" a conveniência do posto, e a vontade que dava era de deitar alí mesmo no chão e dormir alí, resolvemos pegar a estrada de novo até a próxima cidade que seria a uns 100 km dalí e lá tentar achar algum lugar para pernoitar. Chegando na saida da cidade, a beira da ruta 7 encontramos uma pousada, resolvemos bater alí e para nossa surpresa havia quarto para dos, por 260 pesos com cochera e desayuno, nos jogamos para dentro, e capotei, como uma benção chegou a salvação de nossa agonia, daquele dia que parecia que não teria fim, ou que seria o fim.

