Acordamos meio perdidos pela mudança do fuso horário, ganhamos uma hora de sono pois na Argentina é uma hora a menos do que no brasil, descemos para tomar nosso primeiro " desayuno ", que é meio diferente do nosso café da manhã daqui, pão só de forma, suco de laranja, café preto, que por sinal é ruim, tem um gosto misto de café com chá mate, " medias lunas" que são massa folhada doce e salgada que se come com geleia ou doce de leite ou manteiga, subimos arrumamos as coisas, era por volta das 08:30 hs estávamos de saída, arruma as malas nas motos, dá uma lubrificada geral, e pé na estrada.
Paramos para abastecer em um posto perto do hotel, e o frentista gente boa motoqueiro também puxou papo, perguntando de onde éramos e sobre a moto, para onde iriamos, nos deu um incentivo legal, desejando " Suerte" como de costume eles se despedem, e lá estávamos nós, seguindo o GPS que nos levava até um acesso para a RN 19, eis que chegando na alça de acesso tinha policiais bloqueando a passagem, estavam acabando de fechar a pista, ai sem saber o que fazer pois o gps só indicava este caminho, fomos lá e tentei perguntar ao policial, que também estava de moto, como fazer para ir a Córdoba, e ele não entendeu nada do meu portunhol, sem mais começou a rir e se virou para o Duda, que também perguntou como fazer para sair dali, ai ele começou a indicar uma direção que não levou a lugar nenhum. Começamos a rodar pelas redondezas do local, afim de achar um outro ponto de acesso a rodovia e acabamos entrando numas " quebradas", acabou o asfalto, começou a ficar um lugar meio esquisito, ai vímos que teríamos que voltar. Paramos em frente de uma empresa e comecei a mexer no GPS, afinal de contas ele tava ali para nos orientar, comecei dar um "zoom out" e se pudia ver as estrada passando por uma cidade próxima, San Tomé, ai o negócio foi achar o caminho para San Tomé. Rodamos um bom tempo pela cidade perdidos, até que chegamos em uma avenida que indicava placas para Córdoba por San Tomé, ai deu um alívio, agora sim vamos pegar o rumo, só não contávamos com o trânsito, devido ao impedimento da rodovia naquele trecho, todo o trânsito estava sendo desviado para San Tomé, o que fez com que perdessemos umas duas horas entre achar o caminho e conseguir sair da muvuca, para começar realmente a rodar na estrada. Era por volta das 11:00 hs quando finalmente estávamos rodando pela RN 19 livres, o que acabou nos deixando frustrados porque a idéia de chegar cedo em Córdoba já não mais se concretizaria, tinhamos 348 km pela frente, só chegariamos no final da tarde novamente, então tocamos em frente, numa estrada dupla de piso de concreto, um tapete, em meio a pastos e plantações de milho, com retas e mais retas, íamos a nosso destino do dia.
Depois de andar aprox. 1:30 h, chegamos na divisa dos estados de Santa Fé com Córdoba, logo chegamos na cidade de San Luis, onde tivemos o prazer de fazer nossa primeira refeição verdadeira em solo Argentino, paramos no " Comedor El Rancho" , onde fomos atendidos pelo proprietário que diz o que se tem para comer no dia, não existia um cardápio, ai, a gente sem entende muito o que ele dizia, mandamos de " costilla (bisteca)com papas fritas " e Pepsi de litro, pagamos algo em torno de 70 pesos. Aquele almoço nos encheu de animo pelo que estava por vir, tamanho era o prato que nos fora servido, o clima acolhedor do local, todo climatizado, num estilo bem caseiro mesmo, e o atendimento diferenciado da casa, nos dava uma mostra do quão acolhedor e educado é o povo argentino, disso, efetivamente não podemos reclamar.
Seguimos adiante, passando por várias pequenas cidades sempre com muito pouca ou quase nenhuma pessoa pelas ruas, um pouco devido ao horário da siesta, muito sol e calor, fomos nesse dia e no dia anterior, traçando uma um revezamento com vários caminhoneiros brasileiros, sempre que passávamos por um buzinávamos e por várias vezes quando encontrávamos uma sombra a beira da estrada para descansar e eles passavam,faziam o mesmo, e isto dava um tom mais tranquilizador nesta nossa etapa, ainda se pudia ver brasileiros por perto, o que não aconteceria mais desse dia em diante. Passando por uma pequena cidade que não me recordo o nome, vimos uma cena interessante, logo na entrada da cidade havia uma piscina pública aberta, e vários caminhões parados, inclusive de brasileiros, que aproveitam para dar um mergulho ali e amenizar o calor. Nós, apesar da vontade, não pudemos nos dar a este luxo, tinhamos ainda muito chão pela frente.
Faltando pouco menos de 100 km para chegar a Córdoba, resolvi parar numa barraca a beira da estrada que são muito comuns naquele local, vendem principalmente melões e outras coisas da terra, paramos para comprar água, eis que vem uma senhora toda atenciosa, lhe peço por água, ela diz que sim, se vira e volta para dentro de casa, logo volta com uma garrafa pet de 2 litros e uma caneca de aluminio, ela não tinha para vender, mas sim estava nos ofertando da própria água que consumiam. Sem poder negar e ela oferta primeiramente ao Duda e vejo que aquela caneca tinha uma cara não muito das bem limpas, ela enche o copo e o Duda manda vê, quando me passa a caneca vejo uma cena, a caneca tinha uma " crosta" amarelada no fundo, com cara de que ali nunca chegou uma bucha pra lavar, mas fazer o que,vale o velho ditado " o que não mata engorda", olhei algumas crianças brincando em volta da casa, felizes e aparentemente saudáveis, respirei fundo e virei de uma vez. Agradecemos a bondade e a senhora começou a dizer que tinha muitos amigos brasileiros, que eles sempre paravam na barraca dela para comprar melões, senti que ela queria que comprasse algo, lhe disse que de moto não dava para levar melões, que estava com as malas cheias, ela insistiu, disse que tinha salame, aí me interessei, pedi a ela então que me trouxesse um a um preço de 21 pesos, ela toda contente, voltou-se para dentro da casa e trouxe uma sacolinha dessas de mercado com dois salames dentro, pedindo para escolher. Quando vi o salame, tomei um susto, estava todo embolorado, branco de fungos, achei estranho, perguntei se estava bão, se tinha que limpar, e ela sem entender já tirou um e me deu. Sem poder dizer não, paguei o salame, agradecemos e voltamos para a estrada, achando que tinha comprado salame estragado, o que mais tarde fomos ver que estávamos enganados, é uma especiaria da região, pois achamos mais tarde em Córdoba para vender numa loja e estava do mesmo jeito, mas que dá uma mau impressão dá. O salame era macio, bem engordurado, mas com um sabor próprio dele, muito gostoso, bem temperado, não é como aqueles salames de mercado que são duros, e secos, realmente valeu muito a pena ter comprado.
Pouco mais de uma hora de estrada e já estávamos chegando a Córdoba pela RN 19, passamos em frente a uma fábrica da Coca-Cola, e cometemos o erro de seguir fielmente o GPS. Havíamos programado o endereço de um hotel, porém não confirmamos se aquele endereço apontado era próx. ao centro, resultado, fomos levados para a periferia de Córdoba, +- uns 16 km distante do centro, e como não conhecíamos o local fomos seguindo, meio desconfiando mas, com um trânsito pesado e caotico de fim de tarde, fomos meio que levados até chegar em um ponto que ficou muito calmo, diferente de um centro de cidade grande. Resolvemos colocar outro endereço de hotel, e dessa vez checamos, ficava no meio do mapa da cidade e a aprox. 16 km, ou seja, nesse dia, rodamos uns 30 km a toa, perdidos, o que fez com que atrasássemos a chegada.
Córdoba, é como toda capital, muito carro na rua, gente pra todo lado, aquela bagunça que todos conhecem, porém, tudo muito bem sinalizado, muita policia na rua, Córdoba foi a cidade que mais vi policia na vida, tinha policia trombando com policia nas esquinas, te dá uma sensação de segurança muito grande. Rodamos bastante para achar hotel, já se passava das 08:00 hs, quando depois de bater em muitas portas, encontramos em fim e por coincidência no mesmo hotel estavam chegando três casais de gauchos em três Harley Electra, nos viram alí mais nem deram muita bola, afinal eles estavam de Harley, e nós de simples 300 tinha, só um deles que após ver a placa do brasil cumprimentou " e ai tche??", respondi " Bão!!!", ficou nisso, tomaram seu rumo hotel adentro. Apesar de ter chegado tarde, em Córdoba pudemos andar um pouco mais a noite, existem muitas igrejas e monumentos dos jesuitas, da época da colonização espanhola, vida noturna agitada, jantamos um prato de lazanha ao sugo e cerveza Córdoba, não podia deixar de ser...
Catedral de Córdoba
Na volta da janta, paramos em uma loja quase ao lado do hotel, que vende de tudo, água, doces, jornal, lanches, suco, refri, e uma variedade enorme de balas e chicletes, lojas muito comuns por lá, compramos alfajor para adoçar a noite, e estávamos ali degustando quando veio uma policial feminina e abordou um cidadão que passava por ali, pediu documento, perguntou da onde vinha, o que tava fazendo ali, anotou os dados na prancheta que carregava e liberou o rapaz, que tinha jeito de operário, e nós ali, meio de " bobeira" fiquei pensando, daqui a pouco vem aqui em nós tb, mas não veio, porém, ficou ali parada na esquina, de frente com a loja de guloseimas, meio que intimidando a gente, e funcionou, entramos pro hotel e cama, afinal, no dia seguinte tinhamos um longo caminho até Mendoza, última cidade antes das cordilheiras.