“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

domingo, 15 de abril de 2012

4º dia Uruguaiana - Santa Fé (Argentina) > 449 km

Tivemos a pior noite de sono da viagem. Acordei por volta das 02:00 hs da manhã com o braço "ardendo" e a orelha esquerda estava até inchada, de tantas picadas de pernilongo que havia tomado. Quando saímos pra jantar, ficou aberta uma janela do quarto e acho que todos os pernilongos de Uruguaiana entraram no nosso quarto. Era tanto pernilongo que eles trombavam entre si no ar. Começamos a matar uns que passavam pela frente, a não acabava mais, no chão, no teto, nas paredes, nos móveis, meu Deus, só de lembrar da coceira. Ficamos eu e o Duda mais de uma hora matando pernilongo no quarto, e não conseguíamos dormir, era só deitar na cama e lá estava aquele zumbido da cara de novo. Não sei como ninguém reclamou, porque foram tantos tapas nas paredes e pulos da cama que estava vendo que iria dar problema. Por final, acabei pegando umas folhas de sulfite na mochila e fiz uns canudinhos, coloquei fogo e ficamos ali espalhando fumaça pelo quarto pra vê se espantava os dito cujos, e só assim conseguimos dormir novamente. Por causa disso ficou difícil acordar as cedo, acabamos levantando por volta das 07:00 hs, tomar café da manhã e tinha-mos marcado de levar as motos para troca de óleo na concessionária ao lado do hotel. Feito isso ainda o Duda precisava descarregar as fotos da sua máquina para um pen drive, e ficamos lá brigando com o computador do hotel, um lentium..., saimos do hotel por volta das 10:30 hs, demos uma volta pelo centro da cidade e nos dirigimos até a ponte internacional. Do lado brasileiro não é necessário fazer nenhum tramite, passa-se direto pelo posto da receita federal, e já tem acesso ao inicio da ponte. 
























Atravessamos bem devagar, tranquilamente, curtindo a vista do rio Uruguay, nessa momento uma sensação de vazio me tomou conta, é estranho, é como se você estivesse perdendo algo, e realmente, se parar para pensar, tudo o que temos e o que somos estava ficando para trás, nossos heróis, nossa tradição, hábitos, costumes, tudo aquilo que apreendemos a ser nosso desde pequenos, estava ficando da outra margem do rio, daqui para frente, seriamos apenas " visita" em uma casa nova, em terras distantes, sem muito amparo.
Logo que se chega a barreira, um militar argentino se aproximou, me perguntou se iria entrar com a moto e se estava em meu nome, me pediu para ver a CNH e o seguro carta verde, lhe apresentei e me indicou mais a frente um estacionamento, onde deveríamos deixar as motos e nos dirigir do outro lado da rua nos guiches para fazer a "imigración". Estava cheio de gente, na maioria argentinos que regressavam das férias no Brasil e ficamos ali meio perdidos sem saber ao certo qual guiche entrar, quando ouvi uma voz atrás de mim dizendo " ei patron ", era um funcionário argentino que percebendo nossa dúvida veio até nós, e dito a ele que iriamos entrar, ele nos levou direto ao guiche correto. No guiche, todo informatizado não se preenche papel nenhum, somente passa para o agente de imigração o seu documento, no meu caso levei passaporte e o documento da moto, o agente Diego me perguntou aonde iria, lhe disse que iriamos até Mendoza, e ele meio que com ar de deboche, disse " faça o que quiser" , ai ele faz a entrada pelo sistema deles, colocando um carimbo de turista no passaporte, tudo muito rápido, sem complicação.
Do outro lado da rua já tem uma casa de cambio, onde trocamos por volta de R$ 400 em pesos cotação de 1 pesos = R$ 0,38, que foi suficiente para 4 dias na Argentina, isto porque usávamos cartão travel money sempre que podia, com exceção de alguns postos de combustível que só aceitava " en efectivo", (em dinheiro).  

Feitos os tramites, já se passava do meio-dia, saímos dali o mais rápido possível, aquela região é uma área meia tensa, parece que todo mundo vai querer arrumar problema com você, paramos na primeira cidade Argentina, Paso de los Libres para comprar água e alguma coisa para comer na estrada, visto já estar tarde e ter um bom trecho para rodar ainda. Libres é uma cidade muito feia e que dá uma impressão muito ruim para quem está chegando num país diferente, é bagunçada, ruas de terra, parece que parou no tempo, apesar de que o povo é muito gentil e educado, como em toda parte da Argentina que passamos.

























Saímos de Libres, pegando a RN 14, a mal falada rodovia Argentina, conhecida pelos casos de policiais corruptos que arrumam um jeitinho de dar uma " mordida " no bolso dos turistas, o que comprovadamente ao contrário ocorreu. Ainda na RN 14 fizemos nosso primeiro abastecimento em solo argentino, paramos num posto Esso em El Naranjal, completamos o tanque e fizemos um lanche rápido, " Baguetin de salame e queso". Enquanto lanchávamos dava para ver as motos e a curiosidade das pessoas também, porque lá não comercializa a XRE, é novidade, todos rodeavam, olhavam curiosos, e quando saímos da conveniência,  um hermano se aproximou e pediu " se puede sacar una foto? " apontando a moto do Duda que de pronto atendeu. Durante toda a viagem essa cena seria comum, em diversos locais pessoas fizeram fotos das motos e vinham conversar, perguntar da moto, potência, e tal, e nós nos virávamos em portunhol para fazer uma boa propaganda das mesmas. Depois de um trecho curto de uns 30 km,  pega a RN 127 que leva até próx. a cidade de Paraná. Esta RN 127 é uma estrada muito bonita, tem retas intermináveis, como boa parte das estradas que passamos, e não tem pedágio algum. É difícil também encontrar uma sombra a beira da estrada para descansar, ela corta uma região quente e meio deserta, com muitas poucas cidades ou vilas, tem uma vegetação rasteira com arbustos espinhentos, realmente uma aventura atravessar aquela região.


Uma das poucas sombras pelo caminho. Nesse local existia um vilarejo, com algumas casas a beira da estrada e numa delas tinha uma venda de  
" helados " (sorvete), com aquele calor que estava aproveitamos e compramos alguns picolés de e ficamos ali junto dos moradores da casa, um senhor de pouca fala e seus netos provavelmente. Nessa mesma sequencia de árvores, um pouco mais a frente tinha um caminhão com placa de MG parado e o caminhoneiro estava aproveitando para tirar uma soneca também.
De volta a estrada, numa sequencia de retas sem fim, debaixo de um calor escaldante seguimos ruma a cidade de Paraná, foi nessa estrada que pegamos o único trecho de estrada ruim na nossa passagem pela Argentina, uns 30 km bem sinalizado por sinal a respeito do problema, onde a pista que não é de asfalto e sim de " placas de concreto", provavelmente por infiltração de água as placas se desnivelaram criando " degraus" na pista o que tornava impossível transitar acima de 30 km/h, em alguns trechos saiamos pelo acostamento, de terra, o que não ajudava muito também, sendo que passado esse trecho ruim, logo estávamos de volta naquele estradão reto.



Já passado a cidade de Federal, faltando uns 100 km para chegar a Paraná, fomos abordados pela primeira vez pela Polícia Caminera Argentina, num posto perto a cidade de Bovril, onde, logo de cara já desci da moto cumprimentando nosso hermano, ..." holá que tal !! policía argentino, mucho gusto...", como também trabalho nas forças de segurança do lado de cá, ficamos ali " trocando umas idéia", me perguntou como era trabalhar aqui no Brasil, o que fazia, meio com cara de não acreditar muito sei lá por que, bom no final, nos pediu somente o documento da moto e a CNH, deu uma verificada e nos liberou, e ai eu, já me sentindo meio que em casa com os policia de lá mandei um "...se puede sacar una foto, para nossos amigos de brasil??...", o que para minha surpresa foi aceito sem problema algum, fazendo até pose para foto. Diante de tanto ouvir falar mal dos policiais hermanos, pude ver que conversando a gente sempre se entende, foram muito legais com a gente,  sempre prestaram informações, foram bem receptivos,
nas duas oportunidades que fomos parados não ficaram criando caso, nem procurando nada de errado, alias, não tinha mesmo o que procurar, estávamos com documentação até de mais. 
Já a partir deste ponto a vegetação começa a ficar mais verde, já estamos nos aproximando do rio que divide os estados de Santa fé e Enmtre Rios, logo depois da cidade de El Pingo, entramos na RN 12 que levará até Paraná, já numa área mais habitada, paramos num posto YPF para tomar uma gelada, água mesmo, o calor deste dia estava demais, a roupa toda encharcada de suor, e sem saber o que encontraríamos pela frente não podíamos arriscar ainda a saborear nossa primeira Quilmes.






























Depois dessa parada, a tocada foi até seu destino final, Santa Fé, mas antes chega-se na cidade de Paraná que conhecemos somente " pelas beiradas", porque a pista passa no entrono da cidade, levando até um pedágio onde moto paga 2 pesos. Esse pedágio da acesso ao túnel Hernandarias que passa por debaixo  do leito do rio Paraná, num percurso aprox. 2,6 km, bem sinalizado e de trânsito tranquilo. Poucos km afrente chegamos enfim a Santa Fé, uma cidade muito bonita, desenvolvida, com vida noturna agitada, causou uma ótima impressão para um primeiro contato com uma cidade grande argentina, trânsito todo bem sinalizado, policia nas ruas, comercio movimentado, fomos direto para o hotel programado no GPS, bem no centro da cidade, já exaustos, já era tarde,  por volta das 08:30 local, fomos pro quarto, banho tomado, brigando com o tablet para mandar noticias de vida para o povo em casa, e nada do bicho funcionar, descemos ai na recepção tinha um computador para usar, consegui mandar um e-mail avisando da chegada e saímos jantar, afinal, após um dia desses de calor estávamos precisando muito de algo gelado pra tomar, foi ai que andando pelo centro, achamos um  bar,  LaCiti Sport, com um letreiro enorme da Quilmes, não pensamos duas vezes, paramos lá.

Não era Skol, mas desceu redondo.......



Depois de 3 litros da melhor Quilmes que tomei na viagem, e " una picada de salame e queso", voltamos para o hotel que era a algumas quadras dali, era por volta das 23:30 hs e ainda as ruas estavam cheias de pessoas, a maioria do comércio fecha as 22:00 hs e depois disso ainda o movimento de pessoas é grande na cidade.
No dia seguinte, pelos planos iríamos para a cidade de Villa Mercedes em um trajeto de 625 km, más pelo cansaço resolvemos alterar o itinerário e irmos até Córdoba que estava a apenas 348 km, o que nos daria praticamente uma tarde toda livre de descanso e aproveitaríamos mais para conhecer a cidade. 



    

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