“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

quarta-feira, 28 de março de 2012

3º dia Erechim - Uruguaiana > 641 km

Acordamos por volta de 06:00 hs, o dia começava a clarear em Erechim -RS e já prometia ser um dia quente e ensolarado, e nesta etapa de hoje teríamos que tirar o atraso de uns 100 km não completados do dia anterior, seria mais puxado, subimos tomar café da manhã que por sinal estava muito bom, com muita variedade e sabores regionais, como o suco de uva puro que estava delicioso, vários bolos e tortas doces, tudo a vontade.
Arrumamos as coisas e descemos o Duda ainda tinha que limpar o baú da moto dele, que no dia anterior, aquele saco de ameixas doces que compramos na beira da estrada, não demos conta de comer todas, e a guardar no baú acabaram sendo esmagadas, melecando tudo o que estava lá dentro, tendo que retirar o baú e literalmente "enfiar embaixo d´água ", atrasando a saída. Pegamos a estrada por volta das 09:00 hs,  muito sol, muito verde, o trecho entre Erechim e Passo Fundo-RS é muito bonito, muitas curvas leves, com muitas casas de sítio, muita plantação de milho, e aquele cheirinho de curral de porco no ar, a temperatura estava muito agradável e o trecho rendeu bastante, não fosse o fone do intercomunicador que insistia em apertar a orelha, teríamos ido mais longe, mas fomos obrigados a para logo após Passo Fundo para " readequá-lo" no interior do capacete. Essa luta seria diária, e até o final da viagem, não achamos um lugar ideal para ele, acho que quem projetou, nunca fez uma viagem longa com ele em cima de uma moto, ou ele deveria ser acoplado em um capacete especial, pois o fone é meio grande. 
Em Passo Fundo -RS deixamos a BR-153 e pegamos a BR-285, sentido São Borja distante 381 km, sendo que desse total pelo menos 300 km andamos em meio a plantações de soja, era muita soja, só se via isto, planícies verdes balançando com o vento. Nesse trecho da estrada encontramos também com muitos veículos com placa Argentina vindo em sentido contrário, são " los hermanos " em férias vindo aproveitar o calor das praias do sul do Brasil. Passavam comboios, na maioria camionetas e até motorhomes.

Próximo a cidade de Panambi-RS, paramos em um restaurante a beira da estrada, já era por volta do meio-dia, estávamos com " fome de comida ", pois já era nosso terceiro dia na estrada e ainda não havíamos feito um almoço de verdade, ja era hora de calçar o estomago, e nada melhor do que um legítimo churrasco gaúcho, do tchê!!, ehehe. Diferente da maioria das churrascarias daqui, onde você é servido na mesa, lá você se serve a vontade de frios e tudo mais, e vai pegar a carne lá no churrasqueiro, tinha muita variedade, e a carne estava muito saborosa. O difícil foi voltar a estrada de barriga cheia, com um sol danado e ainda faltando uns 400 km para chegar o destino final, não tinha o que fazer, foi pegar a moto e por pra rodar.
Continuamos andando pelas planícies de soja, quando paramos para abastecer em Ijuí-RS num posto a beira da estrada, e quando voltamos a rodar tomei um susto, a pouco menos de um quilometro, minha moto deu uma " engasgada", estávamos numa descida, acelerei e engasgou novamente, ai, já com um frio na barriga, "enrolei o cabo" e dei uma esticada, ela firmou e mantive um aceleração alta por um trecho, alí pensei que iria ficar na mão, por sorte, deve ter sido somente alguma sujeira no combustível, ou talvez já era um primeiro sinal do problema maior que estava por vir...
Continuando pela BR, começa a desaparecer as plantações de soja e a vegetação vira uma pastagem, meio parecido com um sertão, e antes da cidade de São Luis Gonzaga-RS se avistam placas indicando o caminho das ruínas Jesuíticas, dos Sete povos das Missões, local onde no passado foi domínio Espanhol com os jesuítas que catequizavam os índios e controlavam a criação de gado na região e que posteriormente foram expulsos pela coroa portuguesa, anexando este território ao Brasil.







Primeiro almoço em 3 dias de estrada, típico churrasco gaúcho, e último dos próximos 8 dias, dai pra frente seria " almuerzo ".






Continuando sentido São Borja-RS, o sertão começa ceder espaço para os campos de arroz, irrigados com as águas abundantes do rio Uruguay, começam a prevalecer, tendo ainda intervalos com soja. Durante este trajeto, avistamos muitos animais mortos a beira da estrada, na maioria capivaras e lagartos (teiú), vimos também muitos silos de armazenagem de grãos.






Campos de Arroz











Silos próx. São Borja-RS










Passamos por São Borja-RS sem entrar na cidade, que fica a aprox. 1 km da BR, o marcador de combustível estava marcando meio tanque, seguimos sentido Uruguaiana que estava ainda a 180 km, após alguns km a frente noto que o marcador do combustível já estava marcando apenas 2 pontos e comecei a ficar preocupado, pois quando baixar mais um ponto já estará na reserva. Andamos uns 40 km em meio a campos de arroz, um tapete verde e " fofo", que parece uma gramínea, todo alagado, não se vê casas ou sinais de civilização, somente o verde do arroz, os canais que os abastecem com água, os pássaros a beira da estrada catando os grãos que caem da carroceria dos caminhões, e a estrada, reta e plana, com um sol já fraquinho de fim de tarde, quando o marcador entra na reserva. Começo a pensar que deveríamos ter entrado em São Borja para completar o tanque, mas pensei, tem que ter alguma cidade entre São Borja e Uruguaiana, não é possível que entre 180 km não vá ter nada. E assim continuamos andando, eu já em velocidade reduzida e todo encolhido na moto para diminuir o lastro do corpo com o vento, afim de economizar combustível e meu irmão todo a vontade, sem notar o risco eminente, dando umas "esticadas". Já tinha-mos rodado uns 30 km na reserva e nenhum sinal de civilização, ai comecei a aceitar a ideia de que teríamos que pagar o preço pela nossa falha de não abastecer na cidade anterior, iríamos ficar sem combustível. Comecei então a marcar no hodômetro, a distancia dos riachos que passávamos, já que se tivéssemos que passar a noite ali, que fosse perto da água. Olhava no GPS, só tinha uma reta amarela no meio de dois blocos verdes, ou seja, estávamos no meio do nada. Foi aí que já apavorado e conformado em ficar na mão, aparece uma placa indicativa " Itaqui > 10 km", ufa, Itaqui a nossa salvação, porém, já estávamos andando a mais de 30 km na reserva e tinha mais 10 km pelo menos até a próxima cidade, mas pelo menos tinha uma próxima cidade antes de Uruguaiana e nem que tivéssemos que chegar lá empurrando as motos, chegaríamos.  
Contado exatos 48 km no hodômetro rodando na reserva, chegamos na entrada da cidade de Itaqui-RS, toma-se uma pista paralela que leva a aprox. 1 km adentro até a cidadezinha, e lá estávamos no posto, ufa...!!! essa foi por pouco!!!
De volta a estrada do arroizal, como falávamos, agora de tanque cheio era a hora de tirar o atraso e chegar logo a Uruguaiana, pois já eram mais de 18:00 hs. Entre Itaqui e Uruguaiana-RS pela BR-472 se atravessa o rio Ibicui, afluente do rio Uruguay, numa ponte estreita onde só se passa de um lado ao outro em comboios, um lado cada vez, o rio em si estava meio vazio, tinha pelo menos metade do seu leito com as areias a mostra, mais um sinal da grande estiagem que assolou o RS neste  ano de 2011.

Mais 60 km no meio do arroizal, chegamos a Uruguaiana, última cidade brasileira da fronteira, já na entrada da cidade pela Av. Pres. Getulio Vargas,  encontramos o hotel Mainardi que pelo horário e pelo cansaço nos convidou a ficar, ainda mais porquê na esquina do hotel havia uma concessionária Honda Spengler, e necessitaríamos de fazer troca de óleo nas motos, o que conseguimos deixar marcado para o dia seguinte, então, ficou tudo resolvido, estava tudo nos conformes, nos alojamos, banho tomado, jantamos no próprio hotel regados a cerveja Polar, daí fomos pro quarto " brigar" com o Tablet e tentar dormir, pois amanhã seria um dia muito esperado e temeroso, iríamos adentrar na Argentina, seríamos forasteiros em motocicletas e estávamos muito ansiosos por isto.

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