“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

domingo, 8 de dezembro de 2013

15º dia Florianópolis - Americana > 788 km

Desde quando me propus a realizar essa viajem, sempre imaginei como seria o dia de regresso ao lar, ao convivio com a família e a rotina do dia-a-dia, o que sentiria?? como seria a reação nossa e deles??,iria gritar, chorar, pular, imaginei várias coisas e eis que esse dia havia chegado. Acordamos cedo, bem antes do sol, fomos tomar nosso ultimo café da manhã desta nossa primeira aventura em duas rodas, arrumamos as coisas, batia um sentimento de perda, de fim, e ao mesmo tempo uma euforia muito grande pelo retorno. Uma das grandes dificuldades nesse tipo de viajem, é controlar o psicológico e quando há falhas nessa parte abrimos margem para situações desagradáveis e mesmo acidentes. Chamei meu irmão e disse a ele antes de sairmos..." a viajem só termina com as motos na garagem de casa "..., ainda tinhamos uma grande tocada e não poderia acontecer nada  de ruim neste dia tão especial. Esse era o nosso dia de brilhar...


Completei o óleo do motor da minha moto que já estava meio baixo, o Duda na sua mais simples engenhosidade, me fez um funil com uma folha de papel, o que achei maior barato. usou, joga fora. Mapa traçado no GPS, saimos do hotel por volta das 08:00 hs, trânsito tranquilo, estrada agradável, fomos serpenteando a costa, sempre a vista do sol e do mar, logo chegamos em Balneário Camboriú, lugar onde grande parte dos imóveis foram ou ainda são de Argentinos, que quando da época de economia forte deles, investiram na cidade que estava em desenvolvimento. Aproximadamente duas horas depois, começávamos a subir a serra que vai até Curitiba, na divisa dos estado de SC e PR. Alí eu entendi o motivo do nome das árvores " Manacá da serra"...  a mata estava tomada por elas, todas floridas num tom de verde e rosa, deixando uma vista muito bonita. 


A tocada estava muito agradável, pouco movimento na estrada, domingo de sol, fomos parar para almoçar, um bauru na chapa, em um posto de combustivel já bem próximo da divisa de PR e SP, era próximo das 14:00 hs. Assim que começamos a subir a serra, já no alto dela começamos  a avistar chuva, exatamente no mesmo local da ida, e assim que chegamos no pedágio existente já no lado paulista, a chuva caiu, gostoso, como se fosse uma benção de boas vindas ao estado onde nasci. Colocamos as roupas de chuva, pq parecia que seria uma chuva passageira, daquelas que sobe na garupa e vai junto com vc, eheh. Assim fomos até a cidade de Registro, onde a chuva deu trégua, e pudemos tirar aquela roupa de borracha que evita de se molhar pela chuva, mas que molha pelo suor do corpo que não consegue sair.
Durante toda viajem, nenhum incidente de trânsito nos trouxe risco, quando subindo a serra do cafezal, um trânsito bem pesado pelas obras de reforma da BR-116, estamos nós pela faixa da esquerda e uma fila de caminhões ininterrupta pela direita, quando começo a passar por uma carreta, estou olhando o motorista pelo retrovisor dele, ele me vê e eu já quase no meio da carreta ultrapassando, o lazarento filho da puta do motorista, mesmo me vendo alí, entra na faixa da esquerda, me forçando a uma freada brusca para não acabar debaixo dele. Aquilo me deixou puto da vida. Chegando ao rodoanel, a visão do inferno nos remete a realidade do nosso cotidiano. Favelas a beira da estrada, trânsito caótico, pobreza, riqueza... é São Paulo, estava logo alí, pegamos a bandeirantes e paramos no primeiro posto para tomar um folego, ufa, estávamos chegando..




Deste ponto até a chegada, foram mais 40 min num clima de alegria e descontração, o sol brilhava entre nuvens, tempo seco, calor, a emoção de estar de volta era latente, não conseguíamos nos conter em cima das motos, era pura emoção. Ao chegar em casa, a família toda no portão esperando, com cartazes e bexigas, realmente haviam preparado uma festa de recepção e aquilo foi muito reconfortante, sentir o carinho de todos e a admiração de termos feito o que para muitos parecia ser impossível. Estávamos de volta, no mesmo ponto que partimos a 15 dias atrás, as motos mais sujas, os pneus carecas, as malas um pouco mais cheias, e a mente liberta, o coração trasbordava alegria por ter passado por tudo que passamos e poder estarmos de volta ao conforto do lar.


Foram 6.760 km rodados. Três estados brasileiros percorridos. Três países. Pernoitamos em 12 cidades diferentes, conhecemos pessoas, culturas, comidas, climas, valores, todos diferentes do nosso habitual. Rodamos apenas uns 20 km em estrada de terra, e pelas estradas argentinas que passamos, só temos que elogiar. Gastamos por pessoa aproximadamente R$ 2.500,00 com dólar a R$ 1,66 na época. Não tivemos problema algum com abastecimento, sempre tem um posto não importa a bandeira. Dormimos sempre em hotel e das 12 cidades que pernoitamos, apenas 4 não eram capital de estado, então sempre pegamos uma boa estrutura. Conselho, se tem vontade, vá e viaje, vale muito a pena.


Esse foi um pequeno relato dessa aventura planejada por nós Éderson e Eduardo, criticada por alguns, invejada por outros, e vivida por todos, que de forma positiva ou negativa, participaram dessa etapa de nossas vidas.
Em especial, agradeço meu irmão e parceiro de viajem Eduardo, por ter me dado o suporte necessário para a concretização desse sonho, que já se tornou realidade, já virou história.








14º dia Pelotas - Florianópolis > 718 km

Dormimos em uma pousada familiar, bem simples e antiga, onde o proprietário, sempre de camisa cor de rosa (não sei porque), tratava as mulheres da casa sempre de forma rude. Tomamos nosso café da manhã juntamente de um casal de militares do exército que estavam se mudando do nordeste, vindo para trabalhar no sul. Deixamos pelotas pela BR- 116 rumo a Porto Alegre, seguindo por trechos em meio a muito verde, pegamos um pouco de chuva no inicio da manhã, porém com o passar do dia ela ficou para trás. Encontramos bastante motoqueiros pela estrada, afinal era sábado e todo mundo quer dar um rolê no fim de semana.

Chegamos a Porto Alegre já por volta do meio-dia, onde paramos para almoçar no posto Graal. Acabei exagerando no prato e isto me custou muito sono  em cima da moto. Não chegamos a entrar em Porto Alegre, vimos somente a cidade de longe, por cima da ponte que corta o rio Guaiba. Saindo de POA, pegamos a Freeway, rumo ao litoral, onde existem muitos pedágios, e moto paga, o trânsito estava muito carregado, porém, pela estrutura da rodovia, tudo fluia naturalmente. Chegando perto do litoral, a paisagem fica muito bonita, a rodovia vai serpenteando a costa, a brisa do mar invade o capacete, refresca a alma. 

Chegando em SC, por volta da região de Laguna, o trânsito travou geral, muito carro pra pouca pista, tem um trecho que tem uma antiga ponte de ferro que está sendo, literalmente, consumida pelo mar. Depois de muito rodar chegamos a Florianópolis já anoitecendo, demos uma volta pela entrada da ilha, e voltamos procurar hotel no continente, pra ficar mais fácil para o dia seguinte, aquele que encerraria esta primeira jornada longa em duas rodas.