“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

9º dia Uspallata

Era Domingo, acordamos um pouco mais tarde do que de costume, afinal, não iríamos rodar neste dia, lá fora caia uma leve garoa, o tempo estava mais frio, coisa de uns 20ºC, após o " desayuno" , saímos dar um role a pé pela vila, compramos um jornal local que acabei lendo inteiro na parte da tarde para matar o tempo, fizemos algumas fotos e voltamos para o hotel porque o tempo estava meio molhado, passamos boa parte do dia entre TV, internet, e janela, admirando a paisagem e eu pensando numa forma de voltar a andar para poder sair dalí com a moto funcionando, coisa que parecia meio difícil ocorrer. No sábado a tarde acabei voltando na loja do Mamet e comprando aquela bateria de 3A, queria pelo menos saber se era só bateria ou se teria outro problema, adaptei a bateria na moto, pois seu tamanho era incompatível com o compartimento da bateria original, tive que cortar um pedaço do plástico e amarrar com arame, feita a ligação as luzes do painel voltarão a ascender, foi onde achei que poderíamos tentar voltar a Mendoza rodando, porém não dei partida por que precisaria fazer uma chupeta e deixamos isso para fazer na segunda-feira, dia que teríamos que voltar definitivamente.


No fim da tarde que o tempo deu uma firmada, alugamos duas bikes e fomos dar um rolê pelo entorno da cidade, lugar muito bonito e pedalada a 2000 M a.n.m, não é pra quem tá despreparado. Na foto abaixo, onde está verde é a vila de Uspallata, o entorno é todo pedras e arbustos...



Fomos até uma antiga construção da época da colonização espanhola, donde se extraia ouro e prata para envio a coroa, chamado de Bovedas de Uspallata.




Em Uspallata tem duas ou três empresas que promovem passeios de alta montanha, formam grupos e levam de van até a entrada do parque Aconcágua, onde está localizado o monte Aconcágua - Sentinela de Pedra - tem 6 962 metros de altitude, e é simultaneamente o ponto mais alto das Américas, de todo o Hemisfério Sul e o mais alto fora da Ásia, porém como o passeio dura o dia todo as saídas são logo pela manhã e quando fomos ver já era na parte da tarde, perdendo uma ótima oportunidade de conhecer este ponto do planeta.Vale a dica  para quem quiser se aventurar, o passeio custa em média 300 pesos por pessoa.

8º dia Mendoza - Uspallata > 120km

Era para ser o melhor dia da viajem, o mais esperado e enigmático, a travessia dos Andes, de certo, não foi dos piores, afinal chegamos lá...
Acordamos pela manhã de olho no tempo, já que o mecânico das motos no dia anterior tinha nos alertado sobre uma " tormenta" que estava para chegar e isso seria perigoso, pois muda as condições do tempo rapidamente. Bom, obviamente que aquele friozinho estava na barriga, tomamos nosso "desayuno", arrumamos as coisas, descemos e na recepção perguntei para a atendente se aquele era um bom dia para atravessar a cordilheira de moto, e ela disse confiantemente que o tempo estava ótimo, aquilo deu um pouco mais de animo, apesar de meu desânimo interior, naquela manhã eu já sentia que algo não me chamava para continuar adiante.
Arrumamos as coisas na moto e na hora de dar a partida, nada, sem bateria, então manobrei a moto e aproveitando uma rampa que tinha no estacionamento, dei um tranco e a moto pegou, deixei-a funcionando por um tempo e desliguei, ao dar novamente a partida a mesma funcionou, aparentemente estava carregando, mas fiquei cheio de dúvidas sobre o que fazer, de imediato quis ficar por ali mesmo, nem sair do hotel e levar a moto de volta a concessionária, mas lembramos que ele não tinha bateria, então resolvemos andar um pouco com ela e ver se chegava até a oficina, só que chegando na oficina, estava fechada e isso já era quase 9 da manhã. Então ficamos alí, perdidos sem saber o que fazer, paramos no posto de gasolina, abastecemos, dei partida a moto pegou normalmente, então resolvemos ir adiante, afinal de contas entre onde estávamos e o ponto alto na travessia dos Andes existiam dois vilarejos, Potrerillos a uns 50 km e Uspallata a aprox. 120 km, resolvemos ir e se algo desse errado ainda teríamos estes dois pontos de apoio sem contar que iria dar para a moto carregar a bateria.
Pegamos a ruta 7 em direção ao Chile, passamos por um trecho urbano e logo estávamos passando por "fincas", plantações de uvas extensas destinadas a fabricação de vinho. Nesse trecho encontramos com um grupo de três motos, creio que todas BMW GS e uma VW/vam, esta da foto acima com placa da União Européia, estavam viajando em comboio e carro de apoio, com certeza deviam estar a um bom tempo na estrada, e nessa região ai é comum encontrar veículos, principalmente motos de toda parte do mundo mesmo, é uma região muito explorada nesse segmento. Quanto mais andávamos, mais o " gigante de pedra" se aproximava, e confesso que a primeira vista ele já demostra toda sua imponência. 
Andamos por uns 30 km entre curvas e montanha, onde quanto mais andávamos, mais árido ia se tornando a paisagem em virtude da altitude crescente, uma estrada muito linda, bem conservada e com trafego tranquilo, fomos chegando mais perto de Embalse Potrerillos, um vilarejo com cunho turístico e desportivo onde há um lago de águas azul turquesa, construído para represar a água de degelo que desce os Andes e serve para abastecer Mendoza e cidades adjacentes, um lugar ótimo para se passar uns dias.





























Ruta nacional 7, Km 1103


























Por volta das 12:30 hs, entramos em Uspallata, que depois de tanto ver pedra, pareceu um oásis no deserto, de tanto verde avistado, é um vilarejo que serve como ponto de apoio a quem se aventura a escalar o Aconcágua, tendo algumas lojas especializadas em aluguel de equipamento e que promovem excursões para alta montanha, tem tb um comércio básico, com mercado, restaurantes, padaria, e dois ou três hoteis, passamos em frente ao posto YPF, mas como a fila era grande e estávamos com o tanque quase completo, tocamos em frente.

 A uns 5 km dali se encontra uma grande aduana de carga, onde são parados caminhões, mas não tinha nenhum controle policial na estrada, tocamos em frente e já estávamos no meio de pedras novamente, num lugar único, onde a paisagem encanta e te faz pensar muito...





A paisagem nos Andes é impressionante, uma aquarela de cores, só quem já teve a oportunidade de estar lá para saber o que se sente, pena  que não deu para ir muito mais a frente, passado uns 10 km de Uspallata e faltando uns 80 km para chegar na fronteira Argentina/Chile, sinto minha moto começar a falhar, estava cortando corrente, aumentei a rotação do motor, e mesmo assim ela começou a querer morrer, avisei o Duda pelo comunicador bluetooth, fiz a volta na estrada e começamos " tentar " uma volta até o vilarejo de Uspallata que estava alguns km atrás. A moto já não tinha força para andar, estava com o cabo enrolado no último e ela pipocando, quando num trecho da rodovia que estava em obras me aparece uma pessoa com uma bandeira vermelha na mão, impedindo o trânsito porquê mais a frente um trator estava atravessando a pista bem vagarosamente, ai pensei, se parar a moto morre a não ser que deixá-la acelerada, foi o que fiz, parei cara-a-cara com o operário e continuei com o cabo enrolado, ele me olhando com aquela expressão de que ia me mandar pra pu..@#$%&!!, ficamos aliá parados uns 90 segundos, com a moto acelerada "pipocando", assim que a pista foi liberada, a muita custa coloquei a moto para rodar, mas não rodei muito, logo ela apagou..., morreu que não dava nem sinal de vida, nem as luzes do painel ascendiam, aparentemente a bateria já era, foi pro saco!!,  a previsão dos muitos negativistas que acompanharam nossa aventura estava certa...a moto quebrou no meio do nada!!! 

É impressionante como no mundo do motociclismo a idéia de "familia" é globalizada, enquanto estávamos ali na beira da estrada "contemplando" a cagada, começamos a prender uma moto na outra com um cabo de aço que levamos para esta situação (até acho q se não tivesse levado, talvez não tivesse acontecido, más como as previsões da maioria era de que isso iria acontecer, seguro morreu de velho né, levamos o reboque), depois de muitos carros que passaram por nós eis que surge um argentino numa GS 650 a caminho do Chile, e ao nos avistar, faz e volta e todo solicito vem nos perguntar o que aconteceu, ao saber do acontecido fica todo inconformado e se prontifica a ajudar, perguntou o que ele poderia fazer, se tinhamos cabo para puxar ou queríamos que ele voltasse para procurar um guincho e diante da nossa situação, agradecemos ele porque tinha-mos como voltar, afinal de contas estávamos só a uns 10 km de Uspallata, ele nos desejou "Suerte" e tomou destino, aparentemente chateado...Essas pessoas que encontramos pelas estradas que nos fazem ver que nunca estamos sozinhos, seja onde for pessoas de bem se encontram, e isto nos da motivação para ir além...Gracias amigo!!!


Reboque feito começamos a voltar, na minha cabeça a certeza de que a viajem de volta à casa começava alí e aquilo ao mesmo tempo que desanimador, foi também muito reconfortante, saber que estávamos ...indo de volta pra casa...Confesso que dos 6760 km rodados nesta viajem, os km mais tensos rodados foram estes aprox. 10 até Uspallata. Estávamos rodando por uma estrada sem acostamento, e com tráfego de caminhões e nós rodando devagar, 60 70 km/h e com uma dificuldade enorme para segurar a moto na estrada, como o cabo ficou amarrado em somente uma das barras da suspensão, a cada puxada que o duda me dava eu tinha que segurar a moto no guidão para não levar um capote e assim fomos " entre trancos e barrancos" (literalmente), de volta a Uspallata. Assim que chegamos lá, por volta das 13:00 hs, já paramos ao lado do posto YPF e fui logo atrás de saber onde tinha uma oficina de motos, e fui informado pelo frentista que alí não tinha, tinha uma bicicletaria do Mamet que também mexia com motos, muntei na moto do duda e fui atrás do tal Mamet. Quando cheguei em sua loja, o mesmo disse que não tinha bateria para minha moto, que só tinha uma lá mais era fraca de 3A, e a minha moto precisava de uma de 5A, senão não iria funcionar, a não ser que eu fizesse uma "chupeta" ai ela funcionaria, porém iria rodar um tanto e queimar por causa da diferença de tensão. Resolvi não arriscar, parecia arriscado demais continuar assim bem como voltar também. A concessionária Honda mais perto estava em Mendoza, a 120 km para trás. Fui atrás então de guincho e o único da cidade naquele momento me pediu 700 pesos e só iria estar disponivel lá pelas 5 da tarde. além de ter achado meio caro, fiquei pensando em chegar a Mendoza, uma cidade turística, num sábado a noite, com uma moto quebrada, ter que procurar hotel...não iria ser muito fácil, resolvemos então ficar em Uspallata até segunda de manhã, onde iriamos tentar ir rodando ou de guincho de volta a Mendoza. Arrumamos um hotel a beira da RN 7, defronte ao posto YPF, hotel El Montañes, quarto para dois 260 pesos, muito mais barato do que estávamos pagando até então, hotel que recomendo pelo atendimento, limpeza, bom café da manhã e cordialidade dos anfitriões. Ficaríamos alí, dois dias, duas noites, em meio a cordilheira dos Andes, uma parada que não constava do nosso roteiro e que sem sombra de dúvidas, foi a melhor opção que fizemos diante da situação que nos encontrávamos , desfrutamos de dois dias de turismo num lugar maravilhoso, ótima gastronomia, visual incrível, clima friozinho, enfim, um lugar especial.

                                                                                  






sábado, 26 de maio de 2012

7º dia Mendoza

Paramos em Mendoza, capital do vinho, nesse sétimo dia para passar as motos pela revisão dos 8 mil km, troca de óleo, filtro de óleo, filtro de ar, e regulagens em geral, fomos até a concessionária Honda de lá e fomos atendidos pelo mecânico Gustavo, um carequinha gente boa, muito interessado em "por as mãos" na XRE que ele chamou de "uma Tornado 300" e que até então ele só havia visto falar, pq lá na Argentina não é comercializado a XRE. Conversado com ele pediu que voltasse-mos somente na última hora do dia, que era por volta das 19:00 hs, portanto ficaria-mos a pé esse dia todo, e seria nosso dia de turismo por lá.
  Mendoza é uma cidade muito bonita, acolhedora, segura, toda voltada para o turismo, encontramos lá gente de todo o mundo e pelo jeito gente de toda parte da Argentina. A noite as ruas ficam lotadas e os restaurantes idem, todos a procura de um bom vinho e deliciosos pratos típicos da cozinha local.

Deixamos as motos lá e fomos dar uma volta a pé, estava um dia muito quente e de céu claro, conhecemos algumas praças e logo estava na hora do almoço, onde paramos num restaurante perto do hotel que estávamos, pasta e parmegiana, regados a original Andes.
Quando voltamos pegar as motos na oficina detarde, um susto, o mecânico disse que a moto preta estava sem bateria, do nada e que ele não tinha bateria para colocar naquela hora pq tinha q deixar dando carga por 8 horas, então ele deu uma " tranco" na moto e deixou ela funcionando um tempo, sendo que quando deu partida novamente ela "arrancou", funcionou, disse me para andar um pouco mais com a moto para ver se carregava, foi o que fizemos, ficamos dando um rolê por Mendoza no final da tarde, a bateria deu uma carregada, voltamos para o hotel e ai eu já não acionei o alarme, pq o mesmo consome a bateria só que cometi o erro de não ter já desativado o alarme na chave, igual o Duda fez com a moto dele já no primeiro dia da viajem, fomos jantar compramos algumas lembrancinhas e por volta da meia noite estávamos no hotel para dormir. No dia seguinte seria ""O Dia"", a travessia da Cordilheira.





terça-feira, 8 de maio de 2012

6º dia Córdoba - Mendoza > 614 km

Acordamos cedo em Córdoba, fomos os primeiros a tomar o " desayuno" era por volta das 06:30 hs, teríamos um dia longo pela frente e sem dúvida, depois da cordilheira que ainda estava por vir, foi o dia com paisagens mais bonitas que passamos, iriamos atravessar as " altas cumbres", uma cadeia de montanhas enclavadas no meio das terras hermanas, onde a altitude máxima chegou por volta de 2.500 mts.
Ainda antes de sair, depois de alimentados fomos fazer umas fotos da praça perto do hotel, pois até então só tinha-mos conseguido sair a noite para fotografar, a cidade estava tranquila, num ritmo bem devagar ainda. Encontramos uma loja que vendia gêneros alimentícios variados, em especial salames e doces...uma pena estava fechada ainda!!!

Pegamos caminho sentido ao distrito de Carlos Paz, um vilarejo que muito me lembrou a cidade de Águas de São Pedro, aqui pertinho de casa, tipico lugar de veraneio. Paramos abastecer num posto Petrobrás na Av. Fuerza Aérea, gasolina 98 Octanas saiu por volta de 7 pesos litro, algo em torno de R$ 2,66. Até lá fora o preço do nosso combustível é mais caro. Estávamos na porta da conveniência, quando um hermano curioso se aproximou das motos e não resistiu perguntar sobre o Slider, explicamos que era para proteger a carenagem, ele coçou a cabeça pensando, disse que também possuia moto, uma BMW 650 (seis cincoenta) como eles dizem lá, nos deu umas dicas dos caminhos a seguir nas montanhas, se mostrou muito atencioso e empolgado com nossa viagem, nos despedimos e como sempre por lá nos desejou " Suerte ".

















Saindo de Córdoba sentido a Carlos Paz se toma caminho por uma auto pista pedageada, e meio mal cuidada, as vezes penso que por lá o governo cuida melhor das estradas que estão sob sua tutela do que as que são cobradas para se andar, com exceção da auto pista que liga Santa Fé a Córdoba que mais parece um tapete branco, as outras por quais passamos que era pedageada demostrava muitos pontos necessitando de reparos, talvez os pedágios seja para arrecadar $$$ para o conserto, sei lá.
Chegando a Carlos Paz, pegamos um trânsito enorme, as ruas estavam abarrotadas de gente e veículos, era um caos, nosso planejamento de chegar cedo em Mendoza começou a desmoronar ali. Em janeiro no período de férias, os argentinos afortunados saem de casa e vão atrás destes refúgios nas montanhas, ou nas prais deles e nossas, ou senão fazem pique-nique na beira das estradas mesmo, como vimos em alguns lugares, só não ficam em casa, e aquele dia parece que todo mundo estava em Carlos Paz, devemos ter perdido alí no trânsito, num trecho de aprox. 5 km, pelo menos uma hora de "rush", isto porque estávamos de moto e conseguia-mos avançar um pouco mais do que os carros. Passado o vilarejo começou a subida da serra, ainda com o trânsito bastante carregado o que não permitia desenvolver velocidade, foi um longo trecho de vários km a 60-70 km/h o que foi bom por um lado proporcionando visualizar melhor a beleza da região.
Depois de rodado uns 60 km pelas montanhas acima, já por volta das 11:00 hs, demos uma parada num platô muito bonito para dar uma descansada e fazer um lanche rápido de salame, aquele mesmo com bolor que o Duda vinha trazendo amarrado no lado de fora da mochila dele. O sabor do mesmo é indescritível, é muito diferente dos salames comerciais que temos por aqui, a carne é muito macia, parece que foi feito na véspera, com um tempero muito bom, apimentado não muito, e bastante oleoso, se apertar um pedaço é capaz de pingar óleo. Depois do lanchinho, continuamos subindo cada vez mais, começou a se formar uma chuva que ameaçava molhar nosso passeio, porém não chegou a cair, somente a temperatura mesmo que despencou, comecei a sentir um friozinho incomodo, mas não cheguei a colocar mais blusa. Quando começa a subida a vegetação ainda é bastante verde, conforme vai subindo, começa a ficar bem árido, e logo o verde dá lugar ao marrom das pedras numa paisagem meio lunar, paramos no pico em uma estrada paralela ao asfalto, da onde a vista era maravilhosa.







Depois de uma pausa para reflexionar no topo da montanha, começamos a descida rumo a cidade de Mina Clavero pela RN 20, e sentia a cada km descido a temperatura aumentar, uma estrada muito bem conservada e com um visual de tirar o folego, só deve ser meio perigoso com chuva, do contrário é só alegria. Na beira da estrada existem bastante barracas vendendo artesanias locais, e muita pele de cordeiro, uma cena que me chamou a atenção foi ver numa dessas barracas e que em algumas acaba sendo a casa do comerciante, onde estavam algumas peles penduradas num varal e logo embaixo delas um cordeirinho ainda filhote, sem imaginar que, amanhã seria ele ali pendurado ao sol.
A descida é muito bonita, com paisagem exuberante, tem momentos que vc esquece que está de moto, e parece estar voando bem próximo das nuvens. Terminada a descida, paramos para almoçar num restaurante a beira da estrada, o pedido foi "Parrillada para dos", até que enfim fomos provar a tão falada parrilla, que nada mais é do que um churrasco na chapa de carne e miúdos de vaca, porco e frango, servido bem com papas fritas e coca-cola, para dar uma ajuda na digestão e afugentar o sono pós prandial.



 Já era por volta de 14:00 hs quando saímos do restaurante e ainda faltavam aprox. 400 km até Mendoza, ou seja estávamos atrasados denovo, pegamos a estrada num sol escaldante e retas e mais retas intermináveis, o sono era constante, o Duda disse que até dava uns gritos dentro do capacete para manter a atenção, já eu, dei umas cochiladas mesmo, dormia revezando olho, eheheh. Neste trecho após passar por Vila dolores, andamos um bom trecho com alguns motoqueiros locais em motos menores, ora passávamos eles, ora eles nos passavam quando parávamos em baixo de alguma sombra de árvore a beira da pista. Abastecemos em um posto meio com cara de abandonado, mas que tinha gasolina a preços não muito convidativos, em Luján onde o frentista nos perguntou até onde iríamos, e  ao dizer que estávamos indo a Mendoza nos deu uma dica de ir por Encon que era 50 km mais perto, porém passaríamos por 183 km no meio do nada, somente uns arbustos de espinho e algumas cabras na beira da estrada, , ou seguísse-mos por San Luis que seria o trajeto mais longo, perguntou quantos km as moto faziam com um tanque e quando disse 250 km, ele disse todo tranquilo que poderíamos ir... sem posto de combustível, celular não funciona, carros bem poucos, era uma travessia arriscada mas é nestas horas que você tem que acreditar e fomos, já era por volta de 16:00 hs, pegamos via Encom pela RN 20 e a estrada vazia, numa reta sem fim para variar não tinha o que fazer, somente acelerar e contar os km, me fez lembra daquele filme " Mad Max", estradas retas sem fim, no meio do deserto com sol escaldante, só as máquinas que não tinhão nada a ver, eram bem melhores, até que chegou um ponto onde avistamos a cordilheira bem ao fundo, aquilo nos encheu de animo.



























Quanto mais km rodava-mos, mais a paisagem ia se tornando árida, já não se via muitos arbustos mais, era mais para um deserto, com direito a cactus, rio seco e vaca morta em açude seco, coisa que tinha visto até então em filme.
















Quase chegando em Encon, passamos por uma região de dunas, onde tinha vários turistas tirando fotos, coisa que não fizemos e perdemos a oportunidade pois era somente naquele trecho da estrada que as dunas aparecem. Logo chegamos a Encom, uma vila perdida no meio do deserto, que numa primeira impressão se resume a um posto policial,  um posto de gasolina e algumas casas que tem vendas de artigos locais. Neste posto policial fomos novamente parados, e fui logo jogando aquela conversa denovo pra cima do policia, " hola que tal, mucho gusto...", quando disse ser policial também aqui no Brasil, o policial chamou creio que seu chefe, um gordão desengonçado, gente boa, mais que ao saber pelo seu colega que eu também era policial, disse em tom de desdem que eu era policia no brasil, lá não era nada, se virou e voltou sentar no posto policial do outro lado da ruta, ai pensei, ferrou!! nesse meio de nada agora eles vão querer arrumar... o que novamente para minha surpresa não ocorreu, o policial hermano começou a puxar assunto sobre o trabalho aqui, demostrando curiosidade e eu em portunhol nervoso, fui levando a conversa, sendo que perguntei a ele sobre quais documentos queria ver, e nem sequer documento me pediu, ficou tudo " em casa ", aproveitei e perguntei se estava muito longe de Mendoza, e nos disse que estávamos a aprox. uma hora, nos indicou o posto de gasolina a duas quadras dali, despedidas e estrada novamente. Paramos para abastecer e a noite já ameaçava cair, meio antes da hora pois o céu estava meio cinzento de chuva, o que contribuía para formar aquele cenário sinistro de seca, morte, e tristeza, misturado ao medo e a ânsia de ver logo civilização, pegamos a ruta 142 que nos levaria até a cidade de Lavalle, onde chegamos por volta das 20:00 hs e ainda faltava mais uns 40 km até Mendoza.

 Neste trecho antes de chegar a Lavalle, como estávamos indo sentido oeste, e já era hora do por do sol, pude acompanhar pelo GPs o sol se por no pacífico, uma cena muito bacana que não sai da minha cabeça, só estando lá para ver isso. De Lavalle a Mendoza já volta  a ser trecho urbano, passando por alguns vilarejos menores com plantações de uva e azeitona, se chega pela ruta 40 a Mendoza, passando prox. do aeroporto, chegamos á cidade quase 21:00 hs, depois de 12 horas de piloto, estávamos exaustos mais muito felizes por ter chegado bem, ainda consegui fazer uma ligação via celular para minha querida esposa, que neste ponto foi muito bom para acalentar o coração e a matar a saudade de casa. Ficamos num hotel bem próximo a Plaza Independência, o lugar mais movimentado da cidade onde saímos para jantar já tarde da noite, uma " picada de jamon, queso e azeitunas", juntamente de nossa primeira Andes.!!!
Amanhã seria dia de folga e revisão das motos,  e preparativos para a travessia da Cordilheira dos Andes, o que infelizmente ficou pra próxima...




Foi um dia longo, talvez o mais vívido da viagem, passamos por muitas mudanças de paisagem, clima, hábitos, estávamos tão distantes de casa que ao mesmo tempo já começava a me sentir em casa, como um caramujo que carrega tudo o que tem nas costas, a sensação era a mesma, a vida neste ponto da viagem se tornara simples, e a vontade de ir além nos impulsionava dia após dia, amenizando o desespero imenso de pensar nos amores que ficaram e repelindo a vontade louca de voltar, que ora por outra batia no pensamento.