Desde quando me propus a realizar essa viajem, sempre imaginei como seria o dia de regresso ao lar, ao convivio com a família e a rotina do dia-a-dia, o que sentiria?? como seria a reação nossa e deles??,iria gritar, chorar, pular, imaginei várias coisas e eis que esse dia havia chegado. Acordamos cedo, bem antes do sol, fomos tomar nosso ultimo café da manhã desta nossa primeira aventura em duas rodas, arrumamos as coisas, batia um sentimento de perda, de fim, e ao mesmo tempo uma euforia muito grande pelo retorno. Uma das grandes dificuldades nesse tipo de viajem, é controlar o psicológico e quando há falhas nessa parte abrimos margem para situações desagradáveis e mesmo acidentes. Chamei meu irmão e disse a ele antes de sairmos..." a viajem só termina com as motos na garagem de casa "..., ainda tinhamos uma grande tocada e não poderia acontecer nada de ruim neste dia tão especial. Esse era o nosso dia de brilhar...
Completei o óleo do motor da minha moto que já estava meio baixo, o Duda na sua mais simples engenhosidade, me fez um funil com uma folha de papel, o que achei maior barato. usou, joga fora. Mapa traçado no GPS, saimos do hotel por volta das 08:00 hs, trânsito tranquilo, estrada agradável, fomos serpenteando a costa, sempre a vista do sol e do mar, logo chegamos em Balneário Camboriú, lugar onde grande parte dos imóveis foram ou ainda são de Argentinos, que quando da época de economia forte deles, investiram na cidade que estava em desenvolvimento. Aproximadamente duas horas depois, começávamos a subir a serra que vai até Curitiba, na divisa dos estado de SC e PR. Alí eu entendi o motivo do nome das árvores " Manacá da serra"... a mata estava tomada por elas, todas floridas num tom de verde e rosa, deixando uma vista muito bonita.
A tocada estava muito agradável, pouco movimento na estrada, domingo de sol, fomos parar para almoçar, um bauru na chapa, em um posto de combustivel já bem próximo da divisa de PR e SP, era próximo das 14:00 hs. Assim que começamos a subir a serra, já no alto dela começamos a avistar chuva, exatamente no mesmo local da ida, e assim que chegamos no pedágio existente já no lado paulista, a chuva caiu, gostoso, como se fosse uma benção de boas vindas ao estado onde nasci. Colocamos as roupas de chuva, pq parecia que seria uma chuva passageira, daquelas que sobe na garupa e vai junto com vc, eheh. Assim fomos até a cidade de Registro, onde a chuva deu trégua, e pudemos tirar aquela roupa de borracha que evita de se molhar pela chuva, mas que molha pelo suor do corpo que não consegue sair.
Durante toda viajem, nenhum incidente de trânsito nos trouxe risco, quando subindo a serra do cafezal, um trânsito bem pesado pelas obras de reforma da BR-116, estamos nós pela faixa da esquerda e uma fila de caminhões ininterrupta pela direita, quando começo a passar por uma carreta, estou olhando o motorista pelo retrovisor dele, ele me vê e eu já quase no meio da carreta ultrapassando, o lazarento filho da puta do motorista, mesmo me vendo alí, entra na faixa da esquerda, me forçando a uma freada brusca para não acabar debaixo dele. Aquilo me deixou puto da vida. Chegando ao rodoanel, a visão do inferno nos remete a realidade do nosso cotidiano. Favelas a beira da estrada, trânsito caótico, pobreza, riqueza... é São Paulo, estava logo alí, pegamos a bandeirantes e paramos no primeiro posto para tomar um folego, ufa, estávamos chegando..
Deste ponto até a chegada, foram mais 40 min num clima de alegria e descontração, o sol brilhava entre nuvens, tempo seco, calor, a emoção de estar de volta era latente, não conseguíamos nos conter em cima das motos, era pura emoção. Ao chegar em casa, a família toda no portão esperando, com cartazes e bexigas, realmente haviam preparado uma festa de recepção e aquilo foi muito reconfortante, sentir o carinho de todos e a admiração de termos feito o que para muitos parecia ser impossível. Estávamos de volta, no mesmo ponto que partimos a 15 dias atrás, as motos mais sujas, os pneus carecas, as malas um pouco mais cheias, e a mente liberta, o coração trasbordava alegria por ter passado por tudo que passamos e poder estarmos de volta ao conforto do lar.
Foram 6.760 km rodados. Três estados brasileiros percorridos. Três países. Pernoitamos em 12 cidades diferentes, conhecemos pessoas, culturas, comidas, climas, valores, todos diferentes do nosso habitual. Rodamos apenas uns 20 km em estrada de terra, e pelas estradas argentinas que passamos, só temos que elogiar. Gastamos por pessoa aproximadamente R$ 2.500,00 com dólar a R$ 1,66 na época. Não tivemos problema algum com abastecimento, sempre tem um posto não importa a bandeira. Dormimos sempre em hotel e das 12 cidades que pernoitamos, apenas 4 não eram capital de estado, então sempre pegamos uma boa estrutura. Conselho, se tem vontade, vá e viaje, vale muito a pena.
Esse foi um pequeno relato dessa aventura planejada por nós Éderson e Eduardo, criticada por alguns, invejada por outros, e vivida por todos, que de forma positiva ou negativa, participaram dessa etapa de nossas vidas.
Em especial, agradeço meu irmão e parceiro de viajem Eduardo, por ter me dado o suporte necessário para a concretização desse sonho, que já se tornou realidade, já virou história.



