“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

quarta-feira, 28 de março de 2012

3º dia Erechim - Uruguaiana > 641 km

Acordamos por volta de 06:00 hs, o dia começava a clarear em Erechim -RS e já prometia ser um dia quente e ensolarado, e nesta etapa de hoje teríamos que tirar o atraso de uns 100 km não completados do dia anterior, seria mais puxado, subimos tomar café da manhã que por sinal estava muito bom, com muita variedade e sabores regionais, como o suco de uva puro que estava delicioso, vários bolos e tortas doces, tudo a vontade.
Arrumamos as coisas e descemos o Duda ainda tinha que limpar o baú da moto dele, que no dia anterior, aquele saco de ameixas doces que compramos na beira da estrada, não demos conta de comer todas, e a guardar no baú acabaram sendo esmagadas, melecando tudo o que estava lá dentro, tendo que retirar o baú e literalmente "enfiar embaixo d´água ", atrasando a saída. Pegamos a estrada por volta das 09:00 hs,  muito sol, muito verde, o trecho entre Erechim e Passo Fundo-RS é muito bonito, muitas curvas leves, com muitas casas de sítio, muita plantação de milho, e aquele cheirinho de curral de porco no ar, a temperatura estava muito agradável e o trecho rendeu bastante, não fosse o fone do intercomunicador que insistia em apertar a orelha, teríamos ido mais longe, mas fomos obrigados a para logo após Passo Fundo para " readequá-lo" no interior do capacete. Essa luta seria diária, e até o final da viagem, não achamos um lugar ideal para ele, acho que quem projetou, nunca fez uma viagem longa com ele em cima de uma moto, ou ele deveria ser acoplado em um capacete especial, pois o fone é meio grande. 
Em Passo Fundo -RS deixamos a BR-153 e pegamos a BR-285, sentido São Borja distante 381 km, sendo que desse total pelo menos 300 km andamos em meio a plantações de soja, era muita soja, só se via isto, planícies verdes balançando com o vento. Nesse trecho da estrada encontramos também com muitos veículos com placa Argentina vindo em sentido contrário, são " los hermanos " em férias vindo aproveitar o calor das praias do sul do Brasil. Passavam comboios, na maioria camionetas e até motorhomes.

Próximo a cidade de Panambi-RS, paramos em um restaurante a beira da estrada, já era por volta do meio-dia, estávamos com " fome de comida ", pois já era nosso terceiro dia na estrada e ainda não havíamos feito um almoço de verdade, ja era hora de calçar o estomago, e nada melhor do que um legítimo churrasco gaúcho, do tchê!!, ehehe. Diferente da maioria das churrascarias daqui, onde você é servido na mesa, lá você se serve a vontade de frios e tudo mais, e vai pegar a carne lá no churrasqueiro, tinha muita variedade, e a carne estava muito saborosa. O difícil foi voltar a estrada de barriga cheia, com um sol danado e ainda faltando uns 400 km para chegar o destino final, não tinha o que fazer, foi pegar a moto e por pra rodar.
Continuamos andando pelas planícies de soja, quando paramos para abastecer em Ijuí-RS num posto a beira da estrada, e quando voltamos a rodar tomei um susto, a pouco menos de um quilometro, minha moto deu uma " engasgada", estávamos numa descida, acelerei e engasgou novamente, ai, já com um frio na barriga, "enrolei o cabo" e dei uma esticada, ela firmou e mantive um aceleração alta por um trecho, alí pensei que iria ficar na mão, por sorte, deve ter sido somente alguma sujeira no combustível, ou talvez já era um primeiro sinal do problema maior que estava por vir...
Continuando pela BR, começa a desaparecer as plantações de soja e a vegetação vira uma pastagem, meio parecido com um sertão, e antes da cidade de São Luis Gonzaga-RS se avistam placas indicando o caminho das ruínas Jesuíticas, dos Sete povos das Missões, local onde no passado foi domínio Espanhol com os jesuítas que catequizavam os índios e controlavam a criação de gado na região e que posteriormente foram expulsos pela coroa portuguesa, anexando este território ao Brasil.







Primeiro almoço em 3 dias de estrada, típico churrasco gaúcho, e último dos próximos 8 dias, dai pra frente seria " almuerzo ".






Continuando sentido São Borja-RS, o sertão começa ceder espaço para os campos de arroz, irrigados com as águas abundantes do rio Uruguay, começam a prevalecer, tendo ainda intervalos com soja. Durante este trajeto, avistamos muitos animais mortos a beira da estrada, na maioria capivaras e lagartos (teiú), vimos também muitos silos de armazenagem de grãos.






Campos de Arroz











Silos próx. São Borja-RS










Passamos por São Borja-RS sem entrar na cidade, que fica a aprox. 1 km da BR, o marcador de combustível estava marcando meio tanque, seguimos sentido Uruguaiana que estava ainda a 180 km, após alguns km a frente noto que o marcador do combustível já estava marcando apenas 2 pontos e comecei a ficar preocupado, pois quando baixar mais um ponto já estará na reserva. Andamos uns 40 km em meio a campos de arroz, um tapete verde e " fofo", que parece uma gramínea, todo alagado, não se vê casas ou sinais de civilização, somente o verde do arroz, os canais que os abastecem com água, os pássaros a beira da estrada catando os grãos que caem da carroceria dos caminhões, e a estrada, reta e plana, com um sol já fraquinho de fim de tarde, quando o marcador entra na reserva. Começo a pensar que deveríamos ter entrado em São Borja para completar o tanque, mas pensei, tem que ter alguma cidade entre São Borja e Uruguaiana, não é possível que entre 180 km não vá ter nada. E assim continuamos andando, eu já em velocidade reduzida e todo encolhido na moto para diminuir o lastro do corpo com o vento, afim de economizar combustível e meu irmão todo a vontade, sem notar o risco eminente, dando umas "esticadas". Já tinha-mos rodado uns 30 km na reserva e nenhum sinal de civilização, ai comecei a aceitar a ideia de que teríamos que pagar o preço pela nossa falha de não abastecer na cidade anterior, iríamos ficar sem combustível. Comecei então a marcar no hodômetro, a distancia dos riachos que passávamos, já que se tivéssemos que passar a noite ali, que fosse perto da água. Olhava no GPS, só tinha uma reta amarela no meio de dois blocos verdes, ou seja, estávamos no meio do nada. Foi aí que já apavorado e conformado em ficar na mão, aparece uma placa indicativa " Itaqui > 10 km", ufa, Itaqui a nossa salvação, porém, já estávamos andando a mais de 30 km na reserva e tinha mais 10 km pelo menos até a próxima cidade, mas pelo menos tinha uma próxima cidade antes de Uruguaiana e nem que tivéssemos que chegar lá empurrando as motos, chegaríamos.  
Contado exatos 48 km no hodômetro rodando na reserva, chegamos na entrada da cidade de Itaqui-RS, toma-se uma pista paralela que leva a aprox. 1 km adentro até a cidadezinha, e lá estávamos no posto, ufa...!!! essa foi por pouco!!!
De volta a estrada do arroizal, como falávamos, agora de tanque cheio era a hora de tirar o atraso e chegar logo a Uruguaiana, pois já eram mais de 18:00 hs. Entre Itaqui e Uruguaiana-RS pela BR-472 se atravessa o rio Ibicui, afluente do rio Uruguay, numa ponte estreita onde só se passa de um lado ao outro em comboios, um lado cada vez, o rio em si estava meio vazio, tinha pelo menos metade do seu leito com as areias a mostra, mais um sinal da grande estiagem que assolou o RS neste  ano de 2011.

Mais 60 km no meio do arroizal, chegamos a Uruguaiana, última cidade brasileira da fronteira, já na entrada da cidade pela Av. Pres. Getulio Vargas,  encontramos o hotel Mainardi que pelo horário e pelo cansaço nos convidou a ficar, ainda mais porquê na esquina do hotel havia uma concessionária Honda Spengler, e necessitaríamos de fazer troca de óleo nas motos, o que conseguimos deixar marcado para o dia seguinte, então, ficou tudo resolvido, estava tudo nos conformes, nos alojamos, banho tomado, jantamos no próprio hotel regados a cerveja Polar, daí fomos pro quarto " brigar" com o Tablet e tentar dormir, pois amanhã seria um dia muito esperado e temeroso, iríamos adentrar na Argentina, seríamos forasteiros em motocicletas e estávamos muito ansiosos por isto.

quarta-feira, 21 de março de 2012

2º dia Curitiba - Erechin-RS > 474 km

Acordamos cedo no dia 15, era por volta das 06:00 hs, ainda com o corpo doído e cansado, olhamos pela janela e vimos um cenário que convidava a ficar na cama, estava caindo uma fina garoa, o tempo estava bem cinzento, mas para quem tem chão pra andar não dá pra ficar parado. Descemos tomar café da manhã, que estava muito bom diga-se de passagem e foi o último com tanta fartura dos próximos 14 dias, arrumamos as coisas, colocamos a capa de chuva e saímos, ainda antes de pegar a estrada passamos em pontos turísticos conhecidos da capital paranaense, como o jardim botânico, o teatro ópera de arame e o museu Niemayer.


Museu Oscar Niemayer, conhecido como museu do olho.
Como ficamos fazendo turismo, acabamos saindo tarde de Curitiba, cerca de 11:00 hs e teríamos um bom trecho para percorrer neste dia, atravessaríamos SC de leste a oeste para chegar até Passo Fundo -RS. Pegamos a BR- 476 e fomos sentido a São Mateus do Sul, onde após passar pela cidade paramos em uma barraca na beira da estrada que vendia frutas, pêssegos e ameixas, R$ 5,00 o pacote. Compramos ameixa que estava mais doce do que mel, fizemos ali nosso lanche, ameixa com salame e água, este que já seria nosso segundo dia na estrada sem almoço, uma parte complicada da viagem porque, apesar da fome, se você  "enche" a barriga com comida, inevitavelmente você vai ter que travar uma batalha com o sono, e estrada com sono + moto não é uma combinação muito boa, ai na maior parte da viagem fizemos apenas pequenos lanches no decorrer do dia e deixava-mos para fazer uma refeição decente na janta, ai sim, acompanhado de uma cerveja gelada ou de um bom vinho.





Prosseguimos viagem sempre em meio a muito verde, estrada boa, sem pedágio, chegando próximo a União da Vitória, pega-se um trecho de serrinha, muito bom, e acessa a BR-153 que vai nos levar até o RS, poucos km adiante estamos na divisa dos estados do Paraná com Santa Catarina.





Divisa PR-SC por volta de 15:30 hs








Atravessamos o estado de Santa Catarina de leste a oeste pela BR-153, num sol escaldante, passamos por belas paisagens de campos, com plantações de milho, muito vento naquele trecho, deve ser uma região que venta com muita frequência porque avistávamos ao longe muitas usinas de energia eólica, gigantes de ferro no meio de muito verde, percorremos aprox. 200 km nesta travessia do estado e vimos placa de apenas 3 cidades, sendo que passamos por dentro de apenas uma Concórdia, quase na divisa com o RS, onde paramos numa barraca a beira da estrada comprar água e usar o banheiro, onde acabamos comprando um salame regional q custou R$ 8,00 e que estragou no mesmo dia, acho que devido ao calor do sol dentro do baú, fez com que o mesmo chegasse em Erechim deteriorado.
Chegamos na divisa dos estados de Santa Catarina com Rio Grande do Sul já era por volta das 17:30 hs e ainda tinha mais 143 km até Passo fundo.
O rio Uruguay, que divide os estados de SC e RS, neste trecho da BR-153 existe uma "prainha", que no dia que passamos por lá estava lotada de pessoas com lanchas, jet sky, usando ali como área de lazer, tinha até um bar lanchonete, dando infraestrutura para os frequentadores do local, muito bacana. 


             

                Vídeo da travessia do rio Uruguay


Assim que entramos em solo gaúcho, ba tchê!!!, pegamos uma subida de serra, com muitas curvas, estrada muito boa, mas o trecho ficou lento, já no alto da serra se avistava muito longe, sentia um friozinho gostoso, depois de tanto calor durante o dia, estava uma temperatura muito agradável. Uma coisa que me chamou a atenção foi o cheiro de " chiqueiro de porco" no ar, e este cheiro nos acompanhou da divisa com SC até uns 200 km adiante sentido Argentina, deve se ter muitas criações de porco e aves naquela região de Chapecó pois o cheiro era inconfundível. Chegamos na alça de acesso a cidade de Erechim-RS já era por volta de 19:00 hs e ainda tinha-mos uns 100 km para cumprir com a meta diária de chegar a Passo Fundo. Pelo horário já começava a escurecer e era óbvio que se prosseguíssemos, chegaríamos em Passo Fundo já a noite. Optamos por entrar em Erechim e ver se encontrávamos algum hotel, e se assim o fosse passaríamos a noite alí para tirar o atraso no dia seguinte, onde chegaríamos até Uruguaiana-RS. Assim feito, entramos na cidade que para nós se tratava de uma cidadezinha sem recurso pela aparência do começo da cidade, eis que para nossa surpresa chegamos na av. principal e parece que a cidade toda estava lá, muita gente, famílias inteiras sentadas ao longo da avenida, embaixo das árvores, tomando seu chimarrão, ouvindo som, e nós lá no meio da muvuca, desfilando, todos olhavam para nós que obviamente se via que era gente de fora. Era muita gente, tinha polícia organizando o trânsito, parecia que as pessoas estavam esperando algo, até parecia que estavam nos esperando, rsss, e numa certa altura da avenida, quando resolvemos fazer um retorno, acabamos entrando na frente de um carro que vinha com os pisca-alerta ligados, buzinando e com uma " louca" com o corpo pra fora do carro segurando, ostentando um troféu, ai que entendemos que estávamos no meio de uma comemoração de alguma coisa, e nós, bem alí na frente da carreata toda, o jeito foi entrar no ritmo da festa e acompanhando os demais fomos " levados" pela avenida, deu até pra dar umas buzinadas junto, em solidariedade a vitória de sabe  la o que...
Depois de achar hotel e banho tomado, saímos para jantar e para nossa surpresa, a multidão que estava na avenida principal tinha aumentado, e mais estava tendo desfile, com carros temáticos, distribuição de vinho, frutas, queijo, era a festa da economia familiar, pelo jeito, típico daquela cidade pois tinha até carro com a rainha e princesas, uma festa muito bonita, um povo alegre e lógico que provamos do vinho deles, acho que  foi muito melhor ter ficado ali do que prosseguido viagem. 
    
















Encontramos um restaurante aberto no final da avenida, meio com cara de coisa chique, mas como fomos informados no hotel que de domingo teríamos poucas opções lugares para jantar, acabamos ficando ali mesmo e comemos um macarrão a carbonara que estava muito bom, melhor ainda acompanhado de uma Heineken gelada para reidrata e garantir uma boa noite de sono, que iríamos precisar pois no dia seguinte a distancia percorrida iria ser maior, 641 km.





segunda-feira, 19 de março de 2012

1º dia Americana - Curitiba > 512 km

É chegado o dia da partida, acordo as 05:30 h e de cara olhando pela janela, se via um dia cinzento com uma leve garoa caindo, não era bem o tipo de cenário que imaginávamos nem queríamos para começar a viajem, mas com todo aquele chão pela frente, com certeza um dia ou outro de chuva não teríamos como escapar, então que fosse logo no primeiro para depois não mais se preocupar com chuvas, e foi assim que aconteceu.
Depois de tomar um café da manhã com o estomago meio "embrulhado", haja vista estávamos prestes a realizar "a viajem", que a tanto nos planejamos, estávamos prestes a sair de casa, e para terras muito distantes nos dirigir, tendo a incerteza e o desconhecido a frente e tudo, tudo que era nosso ficando para trás.
Por volta das 07:00 h estava tudo pronto, coloquei as malas na moto preta e fomos eu de moto e minhas lindas de carro até a casa de meus pais, de onde eu e meu irmão sairíamos. 

Despedidas e abraços de boa viajem, era visível no rosto de todos a emoção misturado com uma boa dose de preocupação, é nesta hora que o psicológico tem que estar preparado, senão você não consegue mesmo ir, muntamos nas motos e saímos. Todos saíram juntos até o portão e nesta hora minha filha Isabela, com toda sua inocência começou acenar com a mão, dando tchauzinho, nem passava pela cabeça dela o quanto tempo ficaríamos longe sem contato, e isto, ao mesmo tempo que me cortou o coração, me deixou também mais tranquilo, senti ela me desejando boa viajem papai!!!


Andamos uns duzentos metros em silêncio total, meio atordoados pela maré de emoções, pegamos a SP-304 sentido a rodovia dos Bandeirantes, comentei com meu irmão ainda com voz tremula..." é Dudão, agora a viajem começou pra valer..."
A pouco mais de 1 km de estrada, a primeira parada para realocar os fones do comunicador bluethoot, o que seria uma constante durante toda viajem, não estávamos conseguindo ouvir um ao outro, e durante o caminho fomos tentando lugares e jeitos diferentes de se colocar os fones dentro do capacete de uma forma que não incomodasse muito a orelha, sendo que em alguns trechos chegamos andar sem os fones para dar uma descansada na orelha.
Seguimos pela Bandeirantes até o rodoanel, estrada tranquila, céu cinzento sem chuva, muito vento e um pouco de frio, chegamos ao rodoanel e dali pra frente a estrada era nova para nós dois, seguimos sentido BR-116, num trecho de asfalto ótimo, com túneis e muito vento, chegamos no acesso a BR e já que você sai do rodoanel, tem um radar de 40 km, bem em cima, quando vi já estava passando, estava a uns 70 km, freei e pelo jeito deu certo porque até hoje não veio multa alguma.

Paramos num posto de gasolina logo no início da BR, comprei uma coca-cola pra dá uma acordada e aproveitamos para colocar as capas de chuva, pq o tempo estava " prometendo".

Seguimos viajem, logo, chegando na serra do cafezal, nos deparamos com um congestionamento devido a obras de melhoria na pista, estava tudo parado, o pessoal descia dos carros, tinha vendedor ambulante vendendo água, salgadinho, tudo levava a crer que o trecho alí seria demorado, e o céu cinzento com muitas nuvens que avisava que a qualquer hora iria desabar água. 
Ignorando as normas de segurança no trânsito e lembrando do tempo que andava de titan, começamos a " costurar " o congestionamento, andávamos bem devagar em meio aos carros e pedestres espalhados pela pista, e assim, pouco a pouco, fomos avançando, até que começou a descer água, de leve, mais mesmo assim, o que já não estava bom começava a piorar. percorremos uma boa distancia que no fim acabamos por não mesurar mas que deve te dado uns 10 km de congestionamento deve ter, até que acabaram se o trecho de obras e o trânsito lentamente voltava a fluir.  

Aproveitamos para dar uma parada em um ponto de escape na estrada para tirar a " água do joelho " e logo que voltamos a estrada o primeiro susto, a moto de meu irmão começou a disparar o alarme com a moto em movimento, e mesmo acionando o controle a mesma não desligava o alarme, até que depois de muito insistir desligou. Andamos mais uns km e novamente o alarme ativou, só que desta vez não teve santo que fizesse o mesmo desligar, resultado, desativou o alarme pelo código da chave, desativando-o. 
Definitivamente, as Honda XRE 300 não nasceram para se instalar alarme positron, apesar de as concessionárias na hora da venda, visando lucro dizerem que é compatível, balela, compatível uma ova, somos prova de que isso não é verdade. Já no primeiro dia de viajem e sem alarme, o que deveria eu ter feito também, porém a minha moto nunca deu problema no alarme, então insisti e arrisquei deixá-lo acionado, o que mais tarde fui ver ser um grande erro.
A uns 30 km de Registro-SP, já debaixo de chuva forte, paramos num posto Graal para abastecer e fazer um lanche, já era por volta de 14:30 hs, comemos ali fora mesmo, junto das motos que estavam com as bolsas amarradas na garupa, o que vimos ser um grande inconveniente neste tipo de viajem, pois não se pode abandonar as motos alí sozinhas com as malas, somente amarradas na garupa, como diz o ditado    
" seguro morreu de velho" então ficávamos sempre meio presos a moto. Com certeza motos com alforge, tipo baú com chave, nestas situações te deixarão bem mais tranquilos e livres.
 Enquanto estávamos ali degustando um lanche, um casal de catarinenses em viajem de volta do Guarujá, pararam pára bater papo, ele motociclista de outrora, nos perguntou o destino da " tocada", dissemos a ele e o mesmo ficou visivelmente emocionado, dizendo tb já ter andado por aquelas terras e que seu sonho seria chegar até Ushuaia (tá ai uma boa pedida pra próxima...), nos desejou boa sorte, "babou" no gps orange e se foi, nos deixando mais animados, com o espírito de aventureiro mais forte...
Seguimos pola BR-116 sentido PR, passamos por Juquiá, Registro, Jacupiranga, Cajati, e o que se vê neste trecho todo é banana, vastas plantações de banana, até que começa chegar a subida da serra, perto de Barra do Turvo, divisa com o estado do Paraná.
Da subida da serra até quase chegar em Curitiba, andamos embaixo de uma chuva torrencial, era tanta chuva que passamos pela divisa de SP com PR e nem pudemos notar a placa que comumente se vê. Muitas curvas, muitos caminhões e ônibus e não encontrávamos lugar apropriado para encostar as motos e ficar em segurança, o que nos fez andar um bom trecho devagar e com o C@##¨$ na mão.
Já vencido o trecho mais forte da subida da serra, a chuva deu uma diminuída, e ai começamos a passar por locais de acidente, foram uns 6 ou 7, na maioria carros que perderam o controle e saíram da pista, ou capotaram, aparentemente sem nenhuma morte, mais, aquilo foi o suficiente para me deixar bem apreensivo. Comecei a me perguntar " o que que eu to fazendo aqui??", " " isso é loucura!!!", a combinação de chuva, cansaço e cagasso te faz entrar em depre e dai para perder o pique e acontecer algo de ruim é fácil.
Encontramos um posto meio que abandonado com um barzinho e paramos, foi daí que deu para ver que já estávamos no PR. Demos um tempinho alí, e logo, começou a abrir o tempo, muntamos nas motos e bora pra Curitiba, só faltava mais uns 100 km...
 Chegando em Curitiba, já começa a se avistar as Araucárias, arvore típica da região sul, muito verde e um ar gostoso de respirar, talvez pela altitude, chegamos em Curitiba debaixo de um sol forte, eram aprox. 18:00 hs, nada melhor para terminar o primeiro dia da viajem, do que chegar depois de tanta água, com o tempo seco e um sol que encheu as baterias de energia. Fomos procurar hotel e tivemos que rodar bastante até achar um bacana, Bristol hotel, com garagem e café da manhã por R$ 160,00 duas pessoas.
Tomamos banho e com o corpo moído e a mente atordoada, saímos para dar uma volta a pé e procurar algo para comer, paramos num supermercado, compramos água pro dia seguinte, duas cervejas, e encontramos um subway, onde alí fizemos um lanche rápido antes de cair na cama.


Um vídeo próximo a Curitiba-PR





 

sábado, 17 de março de 2012

Preparação

Bom, já definido o trajeto, tem que se pensar na preparação, e isso inclui preparar motos; equipamentos; peças para reposição; dinheiro; físico e principalmente o psicológico.
Garanto a todos que não foi fácil deixar o conforto do lar, coisa que no dia-a-dia, acabamos nem dando muito valor, e sair para essa aventura, principalmente por deixar minha filha então com 11 meses e minha esposa "sozinhas", quem me conhece sabe como me preocupo com elas e realmente, meu maior desafio foi conseguir vencer a barreira da distância. Antes da viajem, me preparei e coloquei como condição de " sempre que sair não olhar para trás", pois sempre quando nos voltamos a pensar encontramos algo que nos faz ficar onde estamos, e isto não ajuda muito quem tem tanto chão pra andar e assim foi...
Bom, até outubro de 2011 nem moto ainda tinha, pois que fui atrás e acabei comprando uma Honda XRE 300 de segunda mão, com aprox. 4000 km e que pelo conjunto todo valeu a pena, pois já estava com baú da Givi, Parabrisa motovisor, protetor de cárter, slider e "alarme positron"(o grande vilão).
Comprei um GPS da Orange G 350 que já veio com os mapas do Brasil, Argentina, Uruguay, Chile, e alguns outros da América do sul, que recomendo como acessório indispensável para uma viajem destas, principalmente nas cidades, facilita e muito para localizar hóteis e pontos de interesse, com certeza valeu cada centavo pago.
Como item de conforto, investi num assento inflável que comprei via E-bay, Air Hawk e que ajuda e muito quando você passa longos períodos sentados, apesar de que após umas três ou quatro horas, nem com o air hawk vc encontra uma posição confortável para por a bunda no assento, ai o negócio é sentar de todas formas possíveis, ir fazendo um " rodizio" de posições para o sangue circular. 
Para melhorar a comunicação e aumentar a segurança, compramos um intercomunicador FDC bluetooth 
R$ 500 o par, que apesar de não conseguir sincronizar o gps nele, nem o celular, como comunicador correspondeu bem a expectativa, conversávamos tranquilamente, mesmo estando a uma distancia de até uns 500 metros um do outro, o único problema era para achar uma posição confortável do fone dele, dentro do capacete que após algum tempo, começava a doer a orelha, pela pressão exercida do fone que é meio grande, e que no meio da viajem, nos fez andar alguns períodos sem o mesmo pra orelha dar uma " descansada", mas apesar de tudo vale a pena pela oportunidade de trocar emoções e poder interagir com as novidades do local onde se está passando.
Comprei um tablet baratinho Volcano com WI-FI para usar nas conveniências a beira da estrada e nos hoteis, porém, foi muito difícil de usá-lo, acho que pela qualidade do produto, deveria talvesz ter investido um pouco mais, ou levar logo um notbook que estamos mais habituados a usar. 
Roupas de frio encontramos umas bem legais a um bom preço na Decatlhon, roupas leves finas e quentes, já que atravessaríamos os Andes, que no final das contas acabaram indo " passear" com a gente, visto o grande calor que passamos na maior parte do trajeto...
Para as motos, procuramos levar algumas peças de reposição como câmara de ar, lâmpada do farol, vela, cabos de aço, jogos de chave (halén, fenda, philips), alicate, canivete mult-uso, parafusos, porcas, um pedaço de uns 2 metros de cabo de aço para reboque, graxa branca para corrente, óleo spray, óleo motor, cintas de nylon (engasga gato) e além disto acrescento aqui coisas que não levamos e que com certeza numa próxima levaremos, que é uma bateria, alguns fusíveis, um pedaço de fio para partida (chupeta), um pedaço de arame de aço para amarrar algo, chave reserva (da moto e do baú, pra deixar guardado nas coisas do parceiro, pq se vc perder a sua, a reserva está na outra moto e vice versa).
Aplicamos vacina de pneu da motovisor, um tubo para cada roda, o que também te deixa mais tranquilo, segundo o vendedor aguenta até a 10 furos de prego não muito grande, sei lá se aguenta mesmo, sei que na viagem toda nem uma parada na borracharia foi necessário. 
Levei um cartão Visa Travel Money, carregado com US$ 800 que é muito bem aceito na Argentina, e tem a vantagem de não te cobrar IOF de 6% como nos crédito, cartão de crédito internacional Master Card (é sempre bom levar um cartão de cada bandeira), e pouco dinheiro em espécie, somente o que dava pra uns dois dias, pra evita de perder pela estrada.
O condicionamento físico estava não dos melhores, mas encarei assim mesmo, nada que uns Salompas não resolva, e enfim, como diz o ditado " quem muito pensa não casa " (e eu casei... eheheh!!) era hora de pegar a estrada...

terça-feira, 13 de março de 2012

Documentação

Para se trafegar com veículo pelos países do Mercosul, dos quais fazem parte, além dos demais, Argentina e Uruguay, é necessário se ter um seguro contra danos a terceiros, chamado de " seguro carta verde". Este seguro que cobre danos materiais e pessoais a terceiros no valor de US$ 40.000,00 . Fizemos em uma corretora de seguros daqui da cidade mesmo, custando para um período de 15 dias o valor aproximado de R$ 180,00. Vc pode fazer por mais ou menos tempo, não excedendo a 90dias e o valor é proporcional.
Em Uruguaiana - RS, conversando com a atendente da concessionária moto Spendler, esta disse que lá existe um despachante que faz o mesmo seguro, e o valor fica por volta de US$ 25,00, o que eu achei uma put...@!%$&$% sacanagem, pois paguei bem mais que isso aqui em SP.
Além do seguro, é necessário que o veículo esteja em seu nome, sem restrições por parte de financeiras, caso contrário, terá que pegar junto a instituição financeira uma declaração de autorização para viajem fora do Brasil.
Para se viajar pelos países do mercosul, a CNH brasileira tem a mesma validade daqui, porém no Chile, país não integrante do bloco, é necessário a emissão da P.I.D (permissão internacional para dirigir), emitida facilmente no próprio site do detran, paga-se o valor da taxa no banco e a mesma é entregue em casa.
É recomendado se levar o passaporte, ou senão, um documento de identidade com emissão não superior a dez anos, mas o passaporte creio que dá mais credibilidade.

Eu aconselho a levar todos os documentos em sacos de plástico tipo " zip lock", comprados em papelaria, além de proteger de chuvas e interpéries, numa eventual abordagem policial, você já saca logo toda a documentação, fazendo com que quem estiver fazendo a abordagem, veja que vc está " por dentro do assunto".

Durante todo a viajem fomos parados somente por duas vezes, e em solo Argentino. Na primeira abordagem estávamos chegando na cidade de Paraná, na província de Entre Rios, e foi super tranquilo, conversamos sobre a viajem e as políticas de segurança, foi pedido o CRLV, a CNH e o seguro carta verde eu só mostrei de dentro do zip lock mesmo, o policial nem quis pegar pra ver.
Na segunda abordagem estavámos chegando na cidade de Encon, próximo a Mendoza e novamente, tudo correu trtanquilamente.

Como diz  o colega J. Marcos Maceno do http://www.diariosdexre300.blogspot.com/ , tenha o policial como um amigo, nunca como um agente repressor, conversando todo mundo se entende...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Planejamento

Determinado o trajeto, começamos a nos planejar...
Visto que iríamos atravessar a cordilheira, e que a altitude no ponto mais alto da passagem gira em torno de 3.500 metros, teríamos que fazer a viajem no período do verão, por causa do clima severo e perigoso, que no  toma conta da região. Sendo assim, marcamos a data da saída para 14/01/2012, período em que entraria em férias e condizia com a necessidade climática para tal feito.
Resolvemos por estabelecer uma média diária por volta de 500 km, e a partir daí  começamos a traçar o roteiro da viajem. 
 1º   dia - Americana - Curitiba...................................512 km
 2º   dia - Curitiba - Passo Fundo...............................557 km
 3º   dia - Passo Fundo - Uruguaiana..........................560 km
 4º   dia - Uruguaiana - Santa Fé (Arg).......................449 km  
 5º   dia - Santa Fé - Villa Mercedes..........................563 km
 6º   dia - Villa Mercedes - Mendoza.........................355 km
 7º   dia - Mendoza - parada para revisão nas motos
 8º   dia - Mendoza - Viña del Mar (chile)..................407 km
 9º   dia - Viña del Mar - Santiago Chile.....................160 km
10º  dia - Santiago do Chile - Passeio turístico
11º  dia - Santiago Chile - San Luis (Arg)...................617 km
12º  dia - San Luis - Buenos Aires..............................795 km
13º  dia - Buenos Aires - Punta del Leste(Uruguay).....339 km
14º  dia - Punta del Leste - Pelotas (RS)......................481 km
15º  dia - Pelotas - Florianópolis..................................717 km
16º  dia - Florianopolis - Americana............................797 km

Ficou assim...:



Um total de 6.869 km, a serem percorridos em 16 dias, que, na realidade sofreram algumas modificações de trajeto no decorrer da viajem, que colocarei mais adiante.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Idéia da viajem

Essa viajem de moto que a princípio seria até a costa oeste do Chile, na cidade litorânea de Viña del Mar, e que por uma pane elétrica na moto preta (entrarei em detalhes mais a frente), acabou-se por chegar até Uspallata, no meio da Cordilheira dos Andes Angentino, começou pode se dizer a muito tempo atrás, quando eu e meu irmão de sangue, alma e coragem, Eduardo Aquilan, ainda crianças, com a mente viajante, ingenuas e aventureiras, planejávamos ir de bicicleta até os Estados Unidos da America, cortando toda a América Latina, no que seria uma viajem de aventura, muito extensa e cansativa por sinal.
Eis que os anos passam, os meninos crescem, se tornam homens, e com isso, como acontece com todos, as responsabilidades da vida nos tomam conta. Seja estudo, trabalho, família, ambição de ter e ser, acabamos por deixar de lado aqueles " sonhos de criança", nos prendendo na rotina do dia-a-dia, transformando-nos em "pessoas máquinas", insensíveis e gananciosas, que acabam por esquecer que o importante da vida é VIVER...
Pois bem, eis que a própria vida se encarrega de nos colocar de volta ao eixo e em 2011, após passar por uma experiência espiritual muito forte, acabo por trazer a tona aquela vontade de menino, de fazermos acontecer nossa aventura. 
Obviamente que nas minhas condições atuais de pai de família, com uma linda filha ainda a completar seu primeiro ano de vida, funcionário público concursado, com cargo de responsabilidade e com período de férias apertado, não conseguiríamos nos afastar por tanto tempo de nossas vidas comuns, surgindo assim a ideia de mudarmos o meio de transporte, como dizem..." a diferença entre meninos e homens, é somente o tamanho dos brinquedos...", resolvemos que de moto poderíamos ir muito mais longe em muito menos tempo, ou seja  nossa aventura poderia sim ser realizada.
Depois de muito pesquisar na net, vimos que existe uma rota comumente feita por motociclistas não só da América, mas sim de toda parte do  mundo, que é a travessia da Cordilheira dos Andes indo da Argentina até o Chile, num percurso de paisagens maravilhosas e relatos de estradas excelentes, e o melhor, depois de feitos os cálculos de distancia, vimos que SIM, era possível fazer esse trajeto todo em apenas 15 dias de estrada!!!
Estava aí, nossa viajem de aventura começava a tomar corpo...
Em Outubro de 2011, comprei uma motocicleta Honda XRE 300, de segunda mão, estava então com aproximadamente 4000 km. Meu irmão já tinha uma moto igual, então agora já tinha-mos o meio para ir, faltava apenas estabelecer a rota e os detalhes, e claro, avisar a família, que apesar de relutar com a nossa idéia, fazendo coro com a maioria das pessoas que falávamos que iríamos pro Chile de moto, "...ceis tão loco!!!...", acabaram por aceitar e apoiar nossa aventura, o que sem eles não teríamos conseguido ir muito longe mesmo, tá ai meu agradecimento antecipado a todos!!!